Volto ao livro Licores de Portugal, da Ana Marques Pereira (autora também do blogue Garfadas Online) porque amanhã há uma oportunidade para a ouvir falar sobre este tema: uma palestra no Museu da Cidade às 18h30, seguida por uma degustação de «Ginja sem Rival» da casa de ginjinha das Portas de Santo Antão. E acreditem que há muito mais para saber sobre a ginjinha do que imaginamos. Deixo em baixo um texto que escrevi em Novembro na revista 2, a propósito do livro.
“Terá sido no século X, na zona da serra de Monchique e pela mão dos árabes que, pela primeira vez em Portugal, se iniciou a destilação de licores. Este é apenas o início da história do fabrico de licores em Portugal, que Ana Marques Pereira, autora de Mesa Real. A Dinastia de Bragança, Cozinhas, Espaço e Arquitectura, e também do blogue Garfadas Online, conta num novo livro intitulado Licores de Portugal (1880-1980).
Trata-se de uma investigação que Ana Pereira decidiu fazer quando preparava para o Centro de Artes Culinárias do Mercado de Santa Clara, em Lisboa, uma exposição sobre a ginjinha (a exposição, que cresceu e passou a ser sobre licores em geral, pode ser vista actualmente no centro). Quando começou a estudar a ginjinha (que tem direito a um capítulo separado no livro), rapidamente percebeu que “ficariam de fora muitos outros licores portugueses de grande sucesso”.
Assim, o livro — que inclui muitas ilustrações sobre o mundo dos licores, com destaque para os cartazes publicitários e para as imaginativas garrafas de licor que representam desde um jogo de futebol até ao Pai Natal a bater à porta de uma casa — começa com um capítulo sobre a origem dos licores, para depois distinguir entre os conventuais, os caseiros e os comerciais. Outro capítulo é dedicado ao Granito de Évora, um licor anisado, pretexto para falar do anis e de outras plantas usadas nos licores, como o funcho.
Fala-se ainda dos objectos ligados ao consumo, dos copos às garrafas e de antigas marcas de licores: aqui vale a pena ficar a conhecer a história da Fábrica de licores Âncora, de Leopoldo Wagner (1858-1923), filho de um alemão da Saxónia que veio para Portugal em 1845, e que fez bebidas como o Luso Africano, o Elixir de Cintra, Ananaz de São Miguel, licor superfino ou o Creme de Ovos, licor superfino.
Particularmente interessante é o capítulo sobre o papel social dos licores, onde Ana Marques Pereira conta, por exemplo, que “foi no século XVII que se assistiu à emancipação das mulheres no que diz respeito à ingestão de bebidas alcoólicas e esse facto ficou a dever-se às novas bebidas da família dos licores” — sendo que o médico inglês Martin Lister “considerava que devido ao uso diário e excessivo destes licores, as mulheres se tinham tornado obesas, embora também culpasse a nova moda do café, chá e chocolate com açúcar, usado nas casas privadas em França, tal como acontecia em Londres”.No final do livro (à venda em livrarias e no Centro de Artes Culinárias) há ainda uma rota lisboeta das ginjinhas.”
(texto publicado na revista 2 do PÚBLICO a 24 de Novembro de 2013)
boas tenho uma garrafa de ginginha popular cuja garrafa ainda diz no vidro lisboa é uma garrafa em forma de funil.nunca tinha visto alguma igual,penso ser muito mais antiga que a ginginha de lisboa .
cumpts