Em Lisboa, a chuva era tanta que parecia o dilúvio. Os carros tentavam ultrapassar os autênticos lagos que se tinham formado um pouco por todo o lado. Chegar ao Chiado parecia uma aventura impossível.
Foto 1: Flor de Sal Fumada, intenso
E, no entanto, pelas 17h30, lá estávamos nós, sacudindo a água dos casacos e dos chapéus, entrando na loja A Vida Portuguesa. O que nos levava até ali era a promessa de conhecer produtos novos da Salmarim, a empresa familiar que comercializa (sob várias formas) sal de Castro Marim.
Desta vez, Jorge Raiado tinha mais duas formas de apresentar sal. A primeira não era totalmente novidade para mim – tinha já tido a oportunidade de, há uns meses, no Tavares, ver como funciona a pedra de sal sobre a qual se pode cozinhar. Na Vida Portuguesa, Luís Barradas fez nova demonstração, e não pode ser mais simples.
Foto 2: O aspecto da flor de sal
Uma das hipóteses é usar a pedra aquecida e sobre ela colocar peixe ou carne crus. Não é necessário tempero, porque os alimentos vão absorver da própria pedra a quantidade necessária de sal, à medida que vão cozinhando (não muito, para não secarem). Mas as pedras – que vêm das minas de Loulé, e que, para já, não estão à venda para o público em geral, mas apenas para chefes de cozinha – podem também ser usadas frias, para servir sashimi, por exemplo.
E se as pedras, que são muito bonitas precisamente por trazerem todas as imperfeições de algo que saiu directamente do fundo da mina, não foram uma surpresa para mim, o sal fumado foi. O novissimo produto da Salmarim é Flor de Sal Fumada, em duas versões: fumado, e fumado intenso. Estarão à venda (já podem ser compradas na A Vida Portuguesa), mas em séries limitadas porque, explicou Jorge, fazê-lo é um processo particularmente moroso.
Foto 3 (com um pedido de desculpas pela péssima qualidade): peixe a cozinhar sobre a pedra de sal
Tudo começou quando, em Setembro do ano passado, dois alemães, pai e filho, foram ter com Jorge para lhe falar na técnica de fumeiro. “Durante um ano andámos a desenvolver aromas fumados”, conta. Cada madeira dá um aroma diferente, e a escolhida foi a do sobreiro. O processo é lento porque, ao contrário por exemplo da carne, o sal não absorve tão rapidamente o fumo. Mas vale a pena esperar. Para quem gosta de sabores fumados, o resultado é muito bom (eu gosto particularmente do mais intenso).
E como com o Jorge Raiado tudo são bons pretextos para juntar amigos e falar de outras coisas, para a apresentação na A Vida Portuguesa trouxe, mesmo debaixo do dilúvio, os vinhos algarvios Barranco Longo, os agora internacionalmente famosos pastéis de bacalhau com nata (criados por Dalila e Renato Cunha, do Restaurante Ferrugem, em Famalicão), os queijos Caprino de Odemira do Massimo e da Paula Oudman, e outras maravilhas – entre as quais uns surpreendentes (e ainda não comercializados) suspiros, feitos por uma amiga, e que são muito bons de todas as formas, em especial com… queijo. Avisem-nos quando estiverem à venda, por favor.
Post muito útil, para quem gosta de qualidade. Parabéns. Só duas notas. Vende-se nas grutas da Serra de Aires um sal gema em lâminas grandes que é bonito para temperar, á última hora, por exemplo uma salada, porque se começa por ver e depois ele vai derretendo e temperando (cuidado com a quantidade!). Também acho giro o sal dos Himalaias, pela sua cor rosada, e da mesma forma, a ver-se primeiro o efeito visual e depois o sabor.