joão de loureiro, missionário botânico


Flora Zambeziaca | carta fito-geográfica de Moçambique [detalhe]

A respeito da flora de Moçambique, os cientistas do Jardim Botânico de Kew, em Londres, escreveram no início do século XX:

There is probably no part of Africa of which the flora has been so little investigated as portuguese East-Africa.

Em parte por reacção à afirmação daqueles que eram considerados a maior autoridade em flora africana, Luis Carrisso redige em 1924 um relatório detalhado em que manifesta a urgência da exploração botânica das então possessões ultramarinas, em particular da “província de Moçambique”, estabelecendo os procedimentos metodológicos e científicos para levar a cabo tal empreendimento. Entre outros aspectos, propõe que:

7.º – Se as circunstâncias o indicarem, estas missões poderão ocupar-se de certas questões de interesse agrícola e industrial, tais como: estudo fito-geográfico de determinadas regiões, no sentido de se determinar a sua utilização agrícola: ensaio de culturas estranhas à flora de região; classificação das essências, com valor industrial, de determinadas regiões florestais; etc.:

8.º – Se as circunstâncias o aconselharem, o Jardim Botânico de Coimbra tomará o encargo da organização, num ponto da Província convenientemente escolhido com o carácter de jardim de ensaio.

Por diversas razões, o principal foco de atenção de Carrisso não chegou a ser Moçambique mas sim Angola, ainda que o plano de exploração e ocupação científica desenhado para o primeiro se adequasse quase inteiramente ao segundo. Mas deste desvio de rota falaremos noutro post.
Ironicamente, e nas palavras de Gomes e Sousa, “de toda a África oriental, foi Moçambique a primeira região a ser estudada na sua flora, não por iniciativa da Metrópole mas, sim, devido ao acaso da viagem do padre João Loureiro [1717-1791], o qual, vindo da Cochinchina para Portugal, em 1783, desembarcou na ilha de Moçambique e ali se conservou durante cerca de três meses.”
Holótipo de Sterculia africana | MNHN Paris
Este missionário jesuíta foi um dos maiores botânicos da sua época e viveu mais de quarenta anos na Cochinchina (actual Vietname) e em outras zonas do Oriente onde se dedicou à propagação da fé cristã. Como nesses locais o cristianismo não era admitido, entrou para o serviço do rei como astrónomo, naturalista e médico tendo tido uma actividade muito profícua em todos estes domínios. A sua publicação mais importante é a Flora Cochinchinensis, referência mundial nas floras do oriente e onde estão incluídas as plantas colhidas na curta estada em Moçambique , em número reduzido, mas importantes pela primazia. Parte dos exemplares colhidos por Loureiro encontram-se hoje no Museu Nacional de História Natural em Paris, levados por Saint Hilaire em 1808, e onde recolhemos a imagem da folha de herbário que apresentamos.

Árvore adulta de Sterculia africana

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