Quanto mais palavras, melhor

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O Jaime coleccionava palavras e agrupava-as. Aprendeu depois que as podia misturar e descobriu a sua voz.

Havia certas palavras que captavam a atenção do Jaime. Entre as que ouvia e lia, fazia o seu registo. Podiam ser “palavras leves e doces”, como “luz”, “flor”, “mãe” e “mel”, ou outras “bonitas de duas sílabas”, como “vida”, “sonho”, “bruma”. Algumas, polissílabas, “soavam como pequenas canções”: o caso de “guacamole”, “caleidoscópio” ou “sinfonia”.

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Não compreendia certas palavras, mas adorava dizê-las: “efervescente”, “vociferante”, “aromática”. E considerava que algumas “soavam exactamente àquilo que queriam dizer”, como “borrão”, “torrencial”, “rugido”. Acrescentaríamos “catrapiscar”, uma das nossas preferidas pela expressividade.

As colecções do rapaz eram temáticas: sonho, ciência, tristes, acção, poético. Foi quando as transportava que tropeçou e as palavras voaram, misturando-se todas na queda. “Palavras grandes com palavras pequenas. Palavras tristes com palavras sonhadoras.” Percebeu que nunca imaginara que certas palavras poderiam estar lado a lado. Gostou.

Fez poemas, canções e descobriu o poder de certas palavras e frases, como “desculpa”, “eu compreendo”, “obrigado”, “gosto de ti”.

“Quanto mais palavras aprendia, melhor conseguia partilhar com os outros tudo que pensava, sentia e sonhava.” O que não acontece só ao Jaime, mas a todos nós. Quanto mais palavras, melhor.

Ajudar as crianças mais “difíceis”

Peter Hamilton Reynolds nasceu no Canadá em 1961 e tem um irmão gémeo, com quem fundou a empresa de meios educativos FableVision. Assina o livro O Ponto, editado em Portugal, pela Bruaá, traduzido para dezenas de línguas, muito premiado e transformado em cinema de animação.

“A sua paixão pela educação é a força motriz da sua acção. Muito do seu tempo é dedicado a ajudar crianças, especialmente as mais ‘difíceis’. ‘Eu fui um deles. Nem todos têm a sorte de ter um professor que veja neles algum potencial’”, lê-se no site da editora portuguesa.

Neste livro, aconselhado por Michelle e Barack Obama, o autor, de forma poética e sonhadora, incita os pequenos leitores a encontrarem a sua voz e a melhor forma de se darem a conhecer aos outros.

No final, papéis esvoaçantes convidam: “Procura hoje as tuas palavras. Diz ao mundo quem tu és e como vais fazer para o melhorar.” Um bom desafio.

Texto divulgado na edição do Público de 21 de Agosto de 2021 e no site-satélite Ímpar.

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Na edição impressa, a página foi desenhada por Sandra Silva. A secção Fim-de-Semana em Família resulta das escolhas de Cláudia Alpendre Marques e Sílvia Pereira. (Que sabem muitas palavras.)

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