Diz António Mota que “contaler” é “ler e inventar o que não está escrito, mas parece que está”. Assim nasceu este livro, em que Cátia Vidinhas desenhou as suas memórias de infância.
Uma história simples, de encontro entre uma ovelha e um gato e — entre outras coisas — sobre o que gostam de comer. O gato Chiribi bem tentou gostar das ervas e flores do prado, que tanto agradavam à ovelha Estrelinha, mas, “nhec! nhec! nhec!”, aquilo não era para ele. “Não foi capaz de engolir as ervas verdes e as flores brancas, amarelas e azuis.”
Numa escrita clara, bem-humorada e com recurso a onomatopeias e à repetição, tanto do agrado dos mais novos, convida-se as crianças a entrar num ambiente por muitas desconhecido: o campo.

Relata-nos como transformavam em brincadeira algumas tarefas do quotidiano, nem sempre fácil: “Brincávamos a fazer de conta que éramos reis cavalgando cavalos muito altos e brancos. Os pobres dos bichos queriam comer, não gostavam nada da brincadeira, atiravam-nos ao chão, nós ríamos e a felicidade estava no meio de nós.”

Para finalizar a explicação de como este livro surgiu, o n.º 37 da colecção Obras de António Mota, diz: “Penso que foi tudo isso — mais o desafio de escrever uma história que não pusesse o meu neto a perguntar se faltava muito para irmos brincar a outra coisa — que me levou a criar a Ovelha Estrelinha e o Gato Chiribi.”
Recriar um passado rural
Quem ilustrou esta história foi Cátia Vidinhas e ficou muito contente com o trabalho: “Ilustrar este livro foi uma maravilhosa oportunidade de regressar à minha infância, pois nasci num ambiente rural, repleto de natureza e animais.”
Tal como o escritor, também ela recuperou experiências do passado: “Fiz um exercício de relembrar memórias, cheiros, cores que pude transpor nas ilustrações, que vivem muito desta ligação ao campo e a ambientes naturais.”
Houve outro aspecto que pôde explorar na ilustração e que muito lhe agrada: “O da inocência e da brincadeira através da construção das personagens.” Resultou.
Quanto à parte técnica, descreve: “Todas as ilustrações foram construídas através de técnica digital, usando vários tipos de expressividade disponibilizados pelos pincéis do software Adobe Photoshop.” Cátia Vidinhas conseguiu criar assim uma atmosfera quente e calma, como o tom do texto.
O livro termina com um sonho fantástico e fantasioso do gato, não sem antes pedir à mãe Cristalina, que morava na casa da Carolina, para mamar, mamar, mamar. “E quando a fome desapareceu, o Chiribi dormiu, dormiu, dormiu. E sonhou, sonhou, sonhou.”
Juntos, António Mota e Cátia Vidinhas, têm já um outro livro, A Gaveta Mágica, que fala da perda de memória dos mais velhos. “Quando a gaveta mágica das histórias que existe na cabeça dos avós fica subitamente vazia, é sinal de que algo se passa. Mas o quê?”, lê-se na sinopse divulgada pela editora. Ao PÚBLICO, o autor disse que queria fazer uma história sobre a doença de Alzheimer. E fez.
A Ovelha Estrelinha e o Gato Chiribi
Texto: António Mota
Ilustração: Cátia Vidinhas
Edição: Edições ASA
32 págs., 11,50€
Texto divulgado na edição do Público de 22 de Maio de 2021 e no site-satélite Ímpar.
Na edição impressa, a página foi desenhada por Sandra Silva. A parte de agenda ficou a cargo de Cláudia Alpendre Marques e Sílvia Pereira.
“Méee, méee”, “nhec, nhec, nhec”. Adoramos estas onomatopeias