O ovo, o ninho e o voo. Depois, as nuvens

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Criado para a primeira infância, Aves — Trilogia para Bebés é uma viagem em três actos, com sons lá dentro. Palavras, música, palmas e duas línguas destravadas.

Um CD que começou por ser um espectáculo e que se apresenta como “um objecto sonoro para partilhar no casulo familiar”, brincando “com a sonoplastia e com as palavras para embalar a imaginação dos bebés e famílias”. Na certeza de que “tudo se inicia no ovo”.

São palavras de Dulce Moreira e Mariana Santos ao PÚBLICO, enquanto criadoras do projecto O Som do Algodão. E têm mais para dizer, quando se lhes pergunta porquê a escolha de aves: “Aves porque é um espaço de liberdade. A ideia de que tudo se inicia no ovo, no casulo primordial. Do ninho-casa e dos afectos que moldam os nossos sonhos e nos permitem ganhar asas para voar. Para nos reencontrarmos nesse espaço de liberdade, porque ‘sonhar é bom, é como voar suspensa por balões’, como escreveu Clarice Lispector.”

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Quando se passa para a segunda faixa, O ninho, é-se levado para a história do Urso Gaspar, da autoria de Inês Montalvão. Antes, já se experimentou a descoberta do ovo, “que é um bicho estranho”. E deparamo-nos com “essa estranheza de acontecer, de existir”.

O ninho somos nós que o fazemos

Gaspar “reúne os seus afectos, as suas conquistas e percebe que o ninho somos nós que o fazemos”. Mais: “O ninho é o lugar que escolhemos como nosso. Seja ele onde for.”

Depois, chega o momento de voar, a última parte da trilogia: “Uma viagem sonora e poética através do sonho, do desejo de voar, de subir no alto como um balão vermelho. De habitar ar. É a história de um apenas menino que ‘amou sempre a terra, viveu sobre as árvores e subiu para o céu’, nas palavras de Italo Calvino”, evocam as autoras.

Sobre a adesão das famílias ao espectáculo, recordam que a trilogia Aves teve a sua estreia no Auditório da Biblioteca Municipal Almeida Garrett, Porto, em 2017. Desde então “passou por palcos de todo o país, reunindo centenas de famílias”. Esteve no Teatro Municipal Constantino Nery (Matosinhos), na Reitoria da Universidade do Porto, no Festival i (Águeda) no Geão Mini Fest (Santo Tirso), no Festival Imaginário (Sintra) e em auditórios e bibliotecas na Guarda, Sever do Vouga, Albufeira, Macedo de Cavaleiros e Vila Nova de Cerveira. E passou ainda “por dezenas de instituições do ensino pré-escolar um pouco por todo o país”.

Internacionalmente, esteve “em destaque na edição de 2019 do Kolibrí Festivaali, em Helsínquia, um festival que celebra a multiculturalidade na Finlândia”. O trabalho foi apresentado a famílias em língua portuguesa. “Uma experiência que veio provar que a palavra existe para lá das fronteiras linguísticas e que nos permitiu partilhar o nosso trabalho artístico focado na primeira infância com famílias de portugueses, brasileiros, espanhóis, chilenos, argentinos ou finlandeses.”

Agora, O Som do Algodão alimenta o desejo de regressar aos espectáculos ao vivo o mais brevemente possível. “No imediato, o projecto mais próximo passa pela digressão que iremos realizar nos Açores com o apoio da Fundação GDA [Gestão dos Direitos dos Artistas]. Iremos levar até às ilhas do grupo central a estreia da nova trilogia para bebés – Cumulus –, cuja criação contou com o apoio do Fundo de Fomento Cultural do Ministério da Cultura”, descrevem.

Cumulus são nuvens. Dulce Moreira e Mariana Santos explicam a nova viagem sonora, visual, sensorial e performativa: “Começamos no ar, como que resgatando o voo final da trilogia Aves, com o desejo de regressar à terra. De nos voltarmos a mover com os pés no chão. Do ar passamos à terra. À cor, ao calor, ao toque e à pele. Para nos reconectarmos. Em família.”

Mais um momento (e espaço) para partilhar a liberdade e as emoções com as famílias e os bebés. Com música embrulhada.

Texto divulgado na edição do Público de 10 de Abril de 2021 e no site-satélite Ímpar.
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Na edição impressa, a página foi desenhada por Ana Fidalgo. A parte de agenda ficou a cargo de Cláudia Alpendre Marques e Sílvia Pereira. Altos voos…

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