Só por existirmos já somos importantes. É isso que Christian Robinson quer mostrar às crianças.
Todos contamos, todos somos importantes, todos valemos. “Uma coisa mínima que mal se vê”; “quem apanha a onda ou quem nada contra a maré”; “o último a ir e o primeiro a chegar”. Todos. Não importa o tamanho, a proveniência, a escolaridade, o desempenho, os bens.
Pode ser um dinossauro ou uma formiga, um adulto ou uma criança, um meteorito ou uma célula. “Quando pareces estar a mais”; “quando achas que não és capaz”; “quando ninguém te pode ajudar”: “És importante.”
Christian Robinson questionou-se sobre o que queria transmitir aos leitores. Chegou à conclusão de que gostava de dizer a todos eles que “cada um é importante só por existir”. Sempre que fala neste livro, repete: “Em casa, na escola, no mundo, todos podemos fazer a diferença.”
Animador e realizador da Pixar e Rua Sésamo
O autor vive em São Francisco, Estado Unidos da América, e dedica-se à ilustração e ao cinema de animação. Trabalhou nos estúdios da Pixar e colaborou na realização da Rua Sésamo. Acredita que as crianças devem escutar e sentir desde cedo que são importantes. Por isso convida os leitores a dizerem isso mesmo a quem está à sua volta, aos adultos também.
Robinson diz que as árvores são dos seres vivos que mais o deslumbram. Ao comentar para o Read-Along PBS Kids uma das ilustrações do livro em que aparece uma grande árvore (de tronco muito largo), duas crianças, um cão e dois homens (um de bengala, outro não), questiona os leitores: “Quando estou a falar dos mais novos e dos mais velhos, estou a referir-me a quem?”
Há que estar atento aos pormenores das ilustrações deste livro (dos outros também), só assim se perceberá a ligação entre as personagens representadas. O cão que parece estar sozinho à beira da estrada, mas que surge mais adiante com alguém a segurar-lhe a trela; a criança que brinca à janela com um foguetão e se assemelha à da foto que uma mulher astronauta segura na mão quando olha para Terra, numa outra página mais à frente.
Questões universais, emoções individuais
“Podes às vezes sentir-te só e achar que não és capaz. Mas és importante. (…) Mesmo se caíres e tiveres de começar tudo outra vez…”, vai escrevendo e mostrando o autor.
Recebeu, em 2016, a Menção Honrosa da Medalha Caldecott, com o livro A Última Paragem, editado em Portugal pela Minotauro/Grupo Almedina. Na Orfeu Mini, tem publicados outros dois títulos: Gaston (com texto de Kelly DiPucchio) e Outro (com texto e ilustração de Christian Robinson), que foi considerado o Melhor Livro Infantil Ilustrado em 2019 pelo New York Times e pela New York Public Library.
Tem ilustrado muitos livros para crianças e recebido vários prémios. Quando lhe perguntam quais as fontes de inspiração, tem dificuldade em parar de falar, mas começa por estas: “Livros ilustrados e artes gráficas dos anos 1950/60, natureza, simplicidade, cidades, ciência, história, música…”
Conta que desde cedo adorava desenhar, pintar, esculpir, enfim, todas as actividades que lhe ocupassem as mãos. Hoje, diz ser obsessivo em coleccionar imagens que o inspiram. E é habitual frequentar museus e livrarias, quando precisa de “recarregar… e de encontrar uma centelha de inspiração”, pode ler-se numa entrevista do autor no site Brightly.
As mudanças de escala e de perspectiva em És Importante ajudam a consolidar o que é dito, traduzindo também por imagens questões universais e emoções individuais. Todas válidas e importantes. Como cada um de nós.
És Importante
Texto e ilustração: Christian Robinson
Tradução: João Berhan
Revisão: Nuno Quintas
Edição: Orfeu Negro
40 págs., 14€ (12,60€ online)
Texto divulgado na edição do Público de 13 de Fevereiro de 2021, no site-satélite Ímpar.
Na edição impressa, sai sempre uma versão mais curta do texto. Quem desenhou esta página foi Ana Fidalgo. O Guia do Lazer voltou a ocupar-se da parte de agenda (tudo online por causa do confinamento). Todos importantes! (para nós e para quem está aí desse lado).