Rir é bom, fazer rir também. Filipe ria que se fartava, Luís não. Isso não os impediu de se tornarem bons amigos.
O título do livro causa estranheza, atrapalha a dicção e provoca logo um sorriso: Síul, Epilif e o Grande Zigomático. Descodificando, Síul é “Luís” ao contrário, Epilif é “Filipe” de trás para diante, Zigomático é o músculo principal responsável pelo riso.
No entanto, algo ficou a germinar: “Fiquei sempre com a ideia na cabeça, como acontece muitas vezes, à espera de encontrar a forma certa para se concretizar”, recorda o actual secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media. E acrescenta: “Com o tempo, senti que poderia ser o ponto de partida para uma história para crianças, uma história sobre a magia do riso, a capacidade que o riso tem de nos transformar, nem que seja por um momento. O riso como o truque que a alegria faz quando se manifesta, até no meio da tristeza, nem que seja por um instante só.”
Os dois rapazes que protagonizam a história, escrita no Verão de 2019, são uma brincadeira com os seus filhos, Luís e Filipe, a quem dedica o livro. “Queria muito escrever uma história que lhes pudesse ler enquanto ainda são crianças. Tinha de ser agora.”

Nuno Artur Silva falou na história a António Jorge Gonçalves, “grande amigo e parceiro de aventuras desenhadas”, que lhe mostrou os trabalhos de Pierre Pratt. “Disse-me que ele poderia ser o desenhador ideal para a história. E foi. Foi o parceiro perfeito, quer pela forma como desenhou quer pela maneira como fomos trabalhando em conjunto.”
Parar a narrativa com uma imagem sem texto
Pierre Pratt explica ao PÚBLICO que, quando lhe entregam um texto, passa inicialmente muito tempo naquilo a que chama “escolhas narrativas”, porque considera muito importante esse momento do processo: “É o primeiro desafio quando se começa a trabalhar num livro. Faz parte do meu trabalho decidir como dividir o texto e a acção e criar a direcção narrativa e o ritmo da história.”
Diz ainda o ilustrador: “Foi a nossa primeira experiência juntos, correu lindamente, temos uma sensibilidade muito próxima.” Deseja que ocorram novos projectos e aproveita para “agradecer ao grande António Jorge Gonçalves pela boleia, foi ele que [me] sugeriu”.
Mais ideias para histórias para crianças
Nuno Artur Silva, inicialmente conhecido sobretudo pela fundação e direcção das Produções Fictícias, recorda-nos trabalhos dirigidos ao segmento infantil: “É a minha quarta incursão no mundo das crianças e dos muito jovens (ou a quinta, se contar com a peça infantil, Anoitecendo, que fiz num colectivo para a comunidade timorense do vale do Jamor, no Natal de 1984). A segunda foi a banda desenhada À Procura do F.I.M., com António Jorge Gonçalves, sobre Lisboa através dos tempos, para a Lisboa-94; a terceira foi o disco/livro/peça de teatro Bom Dia, Benjamim em 1995 e 1998, com Luís Miguel Viterbo [guionista], Rui Cardoso Martins (escritor), Cristina Sampaio [ilustradora] e um colectivo de excepcionais músicos, encabeçado por José Peixoto (músico) e dirigido por José Mário Branco; a quarta foi a peça de teatro desenhada O Rapaz de Papel, com João Fazenda, editada em 2000.”
Pelo meio, desenvolveu ainda outros, “como produtor, director criativo ou editor (da série Inspector Max à revista Kulto [distribuída com o PÚBLICO]), mas, como escritor, é a quinta vez que ensaio o ‘era uma vez’”.
Síul, Epilif e o Grande Zigomático
Texto: Nuno Artur Silva
Ilustração: Pierre Pratt
Edição: Bertrand Editora
40 págs., 12,20€
Texto divulgado na edição do Público de 16 de Janeiro de 2021, no site-satélite Ímpar.
Na edição impressa, saiu uma versão mais curta do texto. A página ficou assim, desenhada por Ana Fidalgo e com a colaboração do Guia do Lazer na parte de agenda. (Obrigada, amigos.)