A coragem de dar um grito à beira-mar

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O protagonista desta história é um cavalo, mas podia ser um humano. Big Bang teve uma súbita vontade de ir até à beira-mar (quantos de nós não terão esse desejo?), depois de acordar “com um desassossego qualquer: ‘Será que me esqueci de alguma coisa importante? Se me esqueci, esqueci-me de que me esqueci…’”

O cavalo pôs-se a caminho. Antes, “cumprimentou o passarinho-seu-vizinho que morava no ramo mais perto da janela. (Um amor de passarinho. Uma gentileza de vizinho”.) O passarinho desejou-lhe “um dia bom”. O nosso protagonista lá foi.

No percurso até à praia, bem ao jeito dos histórias tradicionais, será interpelado por outros seres, não identificados na narrativa, mas sugeridos pela ilustração. Dizem-lhe coisas como: “Hei, Big Bang! Não devias estar a trabalhar como toda a gente?”; “Hei, Big Bang, isso é barriga que se apresente?”

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O cavalo fugiu para a ponta mais distante, mais deserta da praia e “rugiu”. É certo que os cavalos não rugem. “Mas nessa manhã Big Bang rugiu. Um rugido capaz de fazer recuar a água do mar.”

Ainda que em nenhum momento se revele qual “a coisa intrigante que o perseguia…”, intui-se que o livro quer lembrar a necessidade de tempo e espaço para pensar, acalmar sobressaltos, aclarar ideias e propósitos, assumir escolhas. Ou simplesmente desfrutar da liberdade de caminhar e respirar sem ninguém por perto.

Felizmente que aqui a autora não está sozinha. Fez-se acompanhar pelo talento de Bernardo P. Carvalho, que nos prende ao livro através de paisagens com as cores do arco-íris, em que se vislumbram animais à espreita. Essas páginas alternam com outras em que o fundo branco apenas acolhe a figura negra do Big Bang. Embora não reproduzida aqui, a nossa imagem de eleição é a que ilustra o rugido. (Não deixem de a procurar.) Um grito imenso e colorido que muitos não terão coragem para dar.

Estar sozinho por alguns momentos é ainda mais precioso quando se tem companhia mais adiante. Seja a de um familiar, amigo ou namorado. Por isso, Big Bang só sossegou e “conseguiu encontrar a ideia” quando, no regresso, bebeu um chá com o passarinho-seu-vizinho. “Em silêncio. Eles os dois e o sol.

Hei, Big Bang! (Ninguém disse que era fácil)
Texto: Isabel Minhós Martins
Ilustração: Bernardo P. Carvalho
Revisão: Carlos Grifo Babo
Edição: Planeta Tangerina
48 págs., 13,90€

(Texto divulgado na edição do Público de 4 de Abril de 2020)

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A página Crianças impressa saiu assim. Mais uma vez, com a ajuda de Sandra Silva (paginação), de Valter Oliveira e de Paulo Lopes (tratamento de imagens). O Guia do Lazer divulgou o livro no site.
Letra pequena tem sorte por poder contar com esta malta… :)

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