… nascem livros assim.
Um rapaz com um nome original, Clarabóia, vivia num momento e lugar em que o vento carcomia “o juízo às pessoas”. Cansado de assistir às discussões familiares e ao desassossego na rua e na escola, parte à procura da terra dos ventos (e de si próprio).
O desafio de serenar a atmosfera foi-lhe incutido por um indiano vendedor de rosas: “Conta-se que quando se nasce nos é atribuído um vento, um vento de que a pessoa deve cuidar. Como hoje se tornou hábito deixar os ventos à solta dá esta confusão… Bom, um vento não é um pé de buganvília para estar amarrado e todos os dias tem de andar um bocadinho à solta, só assim é que nos traz os aromas distantes, o canto de um pássaro, uma música ou o beijo de um desconhecido… Todos os dias tem de soltar-se. Muito diferente é abandoná-lo, aí torna-se selvagem.”
Na sua viagem, há-de passar pela Aldeia da Luz (prestes a ser submersa), encontrar um ouriço com a lua às costas, aprender como se tira a cortiça dos sobreiros, zangar-se com uma miúda que dizia ter sido trazida para a serra a bordo de um icebergue que derretera. Entre outros encontros e aprendizagens, foi fundamental a visita a uma biblioteca pública.
A história desenvolve-se assim entre o real e a fantasia, numa escrita imaginativa (de António Cabrita), com vocabulário rico, pondo, aqui e ali, o jovem leitor em contacto com expressões pouco habituais no seu quotidiano, mas pertinentes e perceptíveis.
As imagens (de Ivone Ralha) que acompanham a narrativa ajudam a penetrar numa atmosfera onírica, mesmo que ancorada na realidade. Sente-se o vento, mas as cores aquecem-nos, numa expressão plástica feliz. O texto já tinha sido editado em 2008 pela Trinta por Uma Linha, com ilustrações de Sónia Borges.
Esta nova edição tem como parceira a Escola Portuguesa de Moçambique — Centro de Ensino e Língua Portuguesa.
O Pastor de Ventos
Texto: António Cabrita
Ilustração: Ivone Ralha
Edição: Editora Exclamação
96 págs., 12€
Aqui fica a página Crianças completa divulgada na edição do Público de dia 11 de Janeiro de 2020. Sempre com sugestões do Guia do Lazer para actividades culturais para toda a família e em vários lugares do país.