“Quase toda a gente disse que não estava bem que o cão tivesse derrubado o rapaz e o tivesse mordido, mesmo que ele o merecesse. Se calhar tinham razão. Mas eu não podia culpar o Adão. Se fosse tão grande e forte como ele, talvez tivesse feito bem pior!”
Quem assim nos fala é Violeta, uma gata. O Adão é um cão. Já leva 12 anos de vida (se fosse um humano, tinha 84, “temos de multiplicar por 7”) e gosta de comer gotas de chuva. “Tem uma natureza poética”, diz o dono. O dono não, o “pai”. É assim que os animais se referem a Sílvio, o adulto que os acolhe em casa. Margarida é a “mãe”.
Há um terceiro “irmão”, o Zé. “É um rapaz e tem 11 anos — em anos humanos, claro. O equivalente para um cão seria menos de 2!” A Pi, irmã mais velha do Zé, completa a família. Tudo corria bem, até o rapaz começar a ter um comportamento diferente, a não se interessar pela flauta nem pelo futebol (antes, queria ser guarda-redes) e chegando a tratar mal os “irmãos” mais novos.
Adão e Violeta não irão desistir de compreender o que se passa com o Zé nem deixarão de o ajudar a recuperar o seu “sorriso entusiasta”. É de família que se trata.
Uma história comovente sem deixar de ter momentos divertidos e que fala de um modo original dos efeitos do bullying nas crianças, que tanto as fragiliza e as torna infelizes.
O Cão Que Comia a Chuva mereceu o Prémio Bissaya Barreto de Literatura para a Infância 2018, que foi entregue aos autores, Richard Zimler e Júlio Pomar, na quinta-feira passada, em Coimbra. Palavras do júri: “Um livro de artista em que convivem, magistralmente, duas narrativas — o texto e as imagens.” Tal e qual.
O Cão Que Comia a Chuva
Texto: Richard Zimler
Ilustração: Júlio Pomar
Design: Henrique Cayatte
Edição Porto Editora
48 págs., 13,30€
(Texto divulgado na edição do Público de 7 de Abril, página Crianças.)
Página completa, com sugestões de actividades em família, via Guia do Lazer.
Parabéns a todos. Obrigada Richard por nos fazer ver o mundo dessa forma tão necessária. Um livro a nunca perder de vista! Genial!!
Abraço.
Obrigada, cara Adélia Gonçalves, por ter deixado um comentário simpático e por visitar o Letra pequena.
Rita Pimenta