Saramago em desassossego à procura de uma ilha

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(A antecipar os Dias do Desassossego — Pessoa e Saramago nas ruas de Lisboa, que decorrem de 16 a 30 de Novembro em Lisboa, escolhemos divulgar este livro na página Crianças do Público. Ficou muito bem paginada graças a Sandra Silva.)

Contrariando todos os procedimentos oficiais, um homem insiste em ser recebido pelo rei. “Quero falar ao rei, Já sabes que o rei não pode vir, está na porta dos obséquios, respondeu a mulher, Pois então vai lá dizer-lhe que não saio daqui até que ele venha, pessoalmente, saber o que quero, rematou o homem e deitou-se ao comprido no limiar, tapando-se com a manta por causa do frio. Entrar e sair, só por cima dele.”

Pela pontuação logo se percebe que o autor é José Saramago, mas também pelo que denuncia e reflecte num texto que alia o sonho à luta contra convenções inusitadas e à descoberta do mais genuíno e íntimo de cada um de nós. Sempre em busca da utopia.

Afinal, que queria aquele homem, tão corajoso e determinado que desafiara as rotinas da autoridade e do poder?

Foi assim o encontro com o rei: “Que é que queres?, Por que foi que não disseste logo o que querias?, Pensarás tu que eu não tenho mais nada que fazer, mas o homem só respondeu à primeira pergunta. Dá-me um barco, disse.

O rei ficou desconcertado e só algum tempo depois o homem conseguiu dizer-lhe que queria “ir à procura da ilha desconhecida”. Não foi fácil convencê-lo a aceder ao pedido nem a fazer valer a sua certeza de que haveria sempre ilhas por descobrir.

A mulher da limpeza, com quem o homem falara à porta do rei, acabará por viajar com ele. Gostamos deste diálogo: “Não queres vir comigo conhecer o teu barco por dentro, tu disseste que era teu, Desculpa, foi só porque gostei dele, Gostar é provavelmente a melhor maneira de ter, ter deve ser a pior maneira de gostar.”

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Uma história sobre descoberta, perseverança e espírito colectivo. Já a vimos encenada e dramatizada por diferentes companhias, mas não nos cansamos do texto. E da ideia. “Sempre tive a ideia de que para a navegação só há dois mestres verdadeiros, um que é o mar, outro que é o barco, e o céu, estás a esquecer-te do céu. Sim, claro, o céu, Os ventos, As nuvens, O céu, Sim, o céu.

As ilustrações de Fatinha Ramos oferecem à narrativa variações de escala e um colorido que atraem e fixam o olhar do pequeno leitor. Do grande também.

O Conto da Ilha Desconhecida
Texto: José Saramago
Ilustração: Fatinha Ramos
Edição: Porto Editora
64 págs.,13,30€

(Texto divulgado na edição do Público de 4 de Novembro, página Crianças.)

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A página completa, onde se quis também destacar o espectáculo O Pássaro da Cabeça, que estará em cena no Porto, até 19 de Novembro, no Teatro da Vilarinha. Uma peça de Manuel António Pina que encerra um ciclo de representações do Pé de Vento iniciado em… 1978. (Já há um tempinho.)

Mais sugestões de actividades para a família no Guia do Lazer.

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