Anda por aí um rapaz de carapinha ruiva

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Orlando acaba de receber uma carta. É a primeira vez que isso acontece. E não é uma carta qualquer: vem da Rússia!

Começa assim a história de Orlando, um rapaz de oito anos que herdou a tipo de cabelo do pai (guineense), mas com a cor do cabelo da mãe (portuguesa). O resultado desta mistura é uma original carapinha ruiva.  Além desta característica, há outra que o diferencia dos restantes miúdos, não consegue pronunciar a letra “éle”, sai-lhe sempre um “u”. Por isso, é assim que pede à mãe os ingredientes da pizza: “Cogumeuos e toneuadas de queijo.” Mas faz-se sempre entender.

Orlando tem um grande amigo, Tobias, que muito admira por saber duas coisas: a tabuada do 8 e desenhar. Só não consegue compreender que ele não goste de jogar futebol e tenha medo da bola.

A mãe do protagonista, Miranda, é bailarina e o pai, Tim, contrabaixista. Estão separados, mas moram perto um do outro e entendem-se bem. Temporariamente na Rússia, foi ele o remetente da primeira carta que Orlando alguma vez recebera. Lá dentro, dois postais: um para o rapaz e outro para Miranda.

E é então que um rinoceronte entra na sua vida e nos seus sonhos, com a ajuda do tio Tristão. Um bom contador de histórias e hábil na conquista do miúdo para o conhecimento da história de Portugal e do mundo.

Estreia de Alexandra Lucas Coelho nos livros para a infância, Orlando e o Rinoceronte dá início a uma série que remete para os Descobrimentos e para um passado português com que nem sempre é fácil lidar. “O que vamos fazer com o passado muda as coisas, muda o presente e muda o futuro. É importante saber que Portugal foi a maior potência esclavagista, isso faz parte da nossa história”, disse a autora à agência Lusa antes do lançamento do livro, que ocorreu no dia 14 de Outubro no Teatro D. Maria II, em Lisboa.

A escritora, ex-jornalista do PÚBLICO, disse também que pretende que as suas histórias tenham que ver “com a vida, com a família, com o passado, com questões de género, tanta coisa que pode ainda ser contada para crianças”.

Na vida de Orlando, o maior problema é a miúda de sete anos que vive no prédio da mãe: “Pior do que a tabuada do 8, só a Cláudia. A vizinha de baixo, muito mais nova, acaba de fazer sete anos, enquanto Orlando já fez oito. Devia olhar para as crianças da idade dela, mas não. Passa o tempo a persegui-lo nas semanas que ele cá dorme.”

No próximo título, talvez o rapaz não se consiga ainda livrar dela. Está previsto acompanhar o pai até à Guiné-Bissau, mas a mãe de Cláudia também é música e é provável que viajem todos juntos.

Alexandra Lucas Coelho inspirou-se na história do rinoceronte oferecido em 1514 a Afonso de Albuquerque, vice-rei da Índia, que não pôde ficar em Lisboa e naufragou a caminho de Roma. (Também Gilda Nunes Barata convoca este episódio em Rinoceronte e Uma Gaivota na Torre de Belém / Uma Visita à Torre de Belém, com ilustração de Danuta Wojciechowska e Joana Paz.)

A autora, que optou por apenas mostrar a imagem do rinoceronte no final, estreia-se também a ilustrar, recorrendo sobretudo a recortes e colagens. À semelhança do protagonista, parece ainda ter receio de desenhar. Tal como nas palavras, nada a temer.

Orlando e o Rinoceronte
Texto e ilustração: Alexandra Lucas Coelho
Paginação e arranjo gráfico da capa: Teresa Coelho
Edição: Alfaguara
120 págs., 14,90€

(Texto divulgado na página Crianças da edição do Público de 28 de Outubro.)

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A página completa foi esta, com as habituais sugestões do Guia do Lazer.

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