Pensar o pensamento

CapaMuseu

Uma visita especial a um museu especial é o convite que este livro faz aos leitores. Mais ou menos jovens, todos podem entrar, assistir, participar. Convém no entanto que os que nasceram há menos tempo sejam levados pela mão e pela voz dos que chegaram antes. Só há uma condição indispensável para desfrutar das palavras do guia Miguel: estar disponível para pensar.

Já alguma vez pensaram onde vão parar os pensamentos depois de passarem pela vossa cabeça? O que é que lhes acontece? Nunca pensaram nisso? Nunca mesmo? Nunca tiveram assim um pensamento tão grande, tão pesado, que vos fizesse doer a cabeça? Nunca tiveram assim um pensamento tão bonito ou divertido que vos deixasse feliz sem ter de acontecer mais nada?”

Esta torrente de perguntas segue-se a uma breve apresentação e descrição do senhor Miguel: “O Miguel é este senhor muito bem vestido. Traz um daqueles fatos que usam os adultos em reuniões de negócios, casamentos, funerais, ou sempre que querem ser tomados por pessoas sérias. Tem mesmo muito gel no cabelo penteado para trás. (…)” É este o tom.

Vários desafios são então propostos pelo guia do museu: pensar em/por imagens; não pensar em nada; treinar a memória e a imaginação; pensar numa coisa impossível de ser pensada, entre outros.

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Pelo caminho, tropeça-se em muitos chapéus, de diferentes épocas, e em frases como “a boca é uma máquina de emitir opiniões” ou “pensar é: uma orquestra que toca dentro de nós, mesmo a meio da noite, quando toda a gente foi dormir, e reina o silêncio”. Sempre com o objectivo de “pensar o pensamento”.

Este livro nasceu na chapelaria Azevedo Rua (no Rossio, em Lisboa), que funcionou como palco da edição de 2014 do Festival do Teatro das Compras.

A autora conta tudo, no final, sob o título Quando este livro foi teatro: “Na primeira vez que entrei na chapelaria Azevedo Rua, fiquei muito impressionada. O meu olhar navegou pelas estantes que cobrem as paredes até ao tecto, repletas de cartolas, gorros, chapéus de toureiro… Imaginem, tantas cabeças! Só conseguia pensar em todas as pessoas que por ali passaram ao longo dos cento e vinte e oito anos que a loja completava naquele ano. Imaginava-as a saírem dali, de volta para as suas vidas, com os seus lindos chapéus e, de imediato, a pergunta surgiu-me: em que pensariam?

Uma obra original, escrita num tom coloquial e bem-disposto, a que se juntam ilustrações num registo que combina bem com a clareza da linguagem. Não sendo imagens óbvias (à excepção dos múltiplos formatos de chapéus), estimulam a imaginação e a reflexão. Arriscaríamos chamar-lhes “imagens filosóficas”. É que dão que pensar…

O Museu do Pensamento
Texto: Joana Bértholo
Ilustração: Pedro Semeano e Susana Diniz
Edição: Editorial Caminho
80 págs., 16,90€

(Texto divulgado na edição do Público de 7 Outubro, página Crianças.)

Para conhecer melhor o trabalho de Pedro Semeano, este é o caminho. Para chegar até Susana Diniz, siga-nos. Já Joana Bértholo dá-se a conhecer aqui.

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Aqui fica a página completa que foi publicada, com sugestões de actividades em família. Mais informações no Guia do Lazer.

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