Se as Maçãs Tivessem Dentes lança-nos num exercício de imaginação e diversão. Literária e estética. Também pode ser visto como uma prática gramatical da utilização do conjuntivo.
Independentemente do propósito de quem o criou, o resultado é o leitor ficar a imaginar “ses” em tudo o que tropeça. E nada tem que ver com a famosa canção “se eu fosse rico” (embora nos lembrássemos dela). Aqui, a riqueza maior é o acto de imaginar e subverter os sentidos que o mundo (real) nos oferece.
“Se as maçãs tivessem dentes, as coisas seriam bem diferentes” é a frase de entrada neste imaginário, acompanhada pelo desenho do fruto a morder o nariz de um militar de olhos arregalados e bigode farto. Seguem-se ideias à volta de animais e alimentos, como “se os cogumelos tivessem cabelos, ninguém ia querer comê-los” ou “se as zebras andassem de pijama de dia, nunca ninguém notaria” (imagem aqui reproduzida).
Há rimas mais eficazes que outras, mas no conjunto percebe-se grande cuidado na tradução. Trabalho que não vem identificado na ficha técnica, pelo que se presume ser da responsabilidade do editor, Miguel Gouveia.
O livro foi criado por um casal, Shirley Glaser escreveu e Milton Glaser ilustrou, em 1960, mas podia ter sido por estes dias. Milton Glaser “encontra-se entre os mais celebrados designers gráficos norte-americanos, co-fundou o revolucionário estúdio Pushpin em 1954, fundou a New York Magazine com Clay Felker em 1968 e funda a Milton Glaser, Inc. em 1974”.
Frase eleita deste livro: “Se pudesse ler como toda a gente, o canguru dava saltos de contente.” Se a escolha fosse diferente, não seríamos nós certamente.
Se as Maçãs Tivessem Dentes
Texto: Shirley Glaser
Ilustração: Milton Glaser
Edição Bruaá Editora
36 págs., 14€
(Texto divulgado na edição do Público de 15 de Abril, na página Crianças.)
Se quiserem folhear parte do livro, sigam-nos.
Aqui fica a página completa, com as habituais sugestões de actividades em família. Há mais ideias no Guia do Lazer.
A gravura que invoca a Páscoa é de Vítor Gaspar, do Atelier Contraprova. Foi ele que desenhou o primeiro logótipo do Letra pequena (de que continuamos a gostar muito).