Acabámos o ano com um livro em grande.
Logo na capa se diz que é um livro para “imaginar, desenhar e colorir”. Um conselho que apetece logo acatar, conheça-se ou não a obra de Fernando Pessoa. Este é um livro de actividades muito especial, inspirado em quatro dos heterónimos do poeta: Alberto Caeiro, Álvaro de Campos, Ricardo Reis e Bernardo Soares. A cada um, o seu chapéu.
Miguel Neto, que concebeu o livro em parceria com André Carrilho, explica: “O poeta Fernando Pessoa usava sempre um chapéu na cabeça. Dentro da cabeça vivia a sua imaginação. E essa era tal que acabava por transformar o chapéu. Transformava-o em coisas várias, todas importantes, todas especiais. Às vezes, em chapéus de outros poetas (…) Poetas inventados por si, na sua cabeça de poeta, com vidas e escritas diferentes das suas. Era uma espécie de magia. No fundo, era poesia.”
Partindo de cada um dos heterónimos, que é apresentado com um chapéu recheado de elementos que o caracterizam, a criança é convidada a preencher os chapéus das páginas seguintes. A ideia é que se inspire na filosofia de cada um, que também lhe é transmitida com excertos de poemas, mas apelando à própria criatividade, experiência e visão da criança.
Exemplificando: “Quando o Fernando Pessoa usava o Chapéu do poeta Alberto Caeiro, amava a natureza e as coisas simples.” Na imagem, vê-se um chapéu com flores, pássaros e insectos. Segue-se um excerto de “Sou um guardador de rebanhos”: “Sou um guardador de rebanhos./ O rebanho é os meus pensamentos/ E os meus pensamentos são todos sensações./ Penso com os olhos/ E com as mãos e os pés/ E com o nariz e a boca. / Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la/ E comer um fruto é saber-lhe o sentido (…).”
Depois, há o desafio para que as páginas imediatas sejam preenchidas com “chapéus, todos diferentes, uns em cima dos outros”, com “um belo animal” ou com “um monstro, terrivelmente assustador!”
Quando se apresenta Álvaro de Campos, lembra-se que “adorava máquinas e maquinismos e coisas modernas e barulhentas e tudo muito intensamente”. Para Ricardo Reis, diz-se: “Tinha a filosofia de aproveitar o dia, o momento, o que o destino trazia. Mas tudo com calma, sem prejudicar a alma.”
A encerrar, Bernardo Soares é descrito assim: “Com o chapéu de Bernardo Soares, Fernando Pessoa não sabia muito bem quem era, o que pensava, o que sentia, e assim, num grande desassossego, sempre por Lisboa, a sua cidade, ele ia… e ia…”
Tudo isto em português e em inglês (as edições da Lisbon Poets & Co. são sempre bilingues).
Uma ideia de se lhe tirar o chapéu. Melhor, de o pôr em várias cabeças.
O Chapéu de Poeta de Fernando Pessoa / The Poet Hat of Fernando Pessoa
Texto: Miguel Neto
Tradução (para inglês): Austen Hyde e Martin D’ Evelin
Ilustração: André Carrilho
Edição: Lisbon Poets & Co.
74 págs., 12,90€
(Versão alargada do texto divulgado na edição do Público de 31 de Dezembro, na página Crianças.)
Para conhecer melhor o trabalho de André Carrilho, siga-nos.
Aqui está a página completa, com sugestões de actividades culturais para as famílias. Mais informação no Guia do Lazer.
Demais o blog, vou me divertir lendo os posts passados!
E esse livro de colorir… genial!