É sabido que as crianças fazem muitas e muitas perguntas. Nem sempre os pais sabem ou querem responder. Chegam a desesperar com o momento em que as questões lhes são postas. Seja porque lhes parece que a criança se está a antecipar às fases de desenvolvimento que os manuais ditam ou porque aparecem em contextos embaraçosos. Enfim, quem tem crianças por perto sabe do que falamos (e nem precisam de ser pais).
Neste livro, o protagonista é um desses miúdos, sempre com um ponto de interrogação à espreita. Não entende o céu (afinal, como é que as estrelas se seguram lá em cima?) nem o coração (com os seus disparos frente à Maria).
A ajuda que pede aos pais para esclarecer estas e outras dúvidas não o satisfazem. Decide então investigar por si só. “Não foi fácil, mas, ao fim de algum tempo, consegui perceber muitas coisas que não percebia.”
Uma das investigações decorreu da comparação entre o pequeno e o avô: “A cara com rugas, as costas curvadas, as mãos com pintas, a careca aonde me apetece fazer desenhos com marcadores e lápis de cera. A minha cara não tem rugas, não tenho as costas curvadas e até gostava de ter pintas nas mãos e desenhos na careca, mas não tenho.”
Depois de perguntar aos pais a razão destas diferenças, estes “apenas” explicaram que o avô era mais velho do que ele. Mas o rapaz chegaria a uma conclusão muito mais satisfatória, que lhe ocorreu enquanto o desenhava: “– O avô tem um relógio no pulso, e eu não. O tempo passa por ele, e por mim não.”
Um livro poético na escrita e na ilustração, em que as duas linguagens denunciam, a seu tempo, quer a confusão das dúvidas quer a clareza possível das conclusões. Com talento.
A ilustradora usa várias técnicas e escalas para representar o rapaz e os contextos, impelindo-nos a virar a página com vontade de descobrir a solução gráfica que escolheu para as questões que vão sendo formuladas pelo protagonista. Como no pensamento do rapaz, dos pais dele e do leitor, nada é óbvio, mas também nem tudo é totalmente enigmático.
Gostamos particularmente de uma das perguntas finais, que também formulámos em tempos e a que já nos submeteram mais recentemente. “Onde é que eu estava antes de ter nascido?”
Os Pais não Sabem, mas Eu Explico será apresentado amanhã [dia 18] em Lisboa, por Carla Maia de Almeida, na Landeau Chocolate do Chiado, às 16h. As autoras Maria João Lopes (jornalista do PÚBLICO) e Teresa Cortez vão lá estar. Levem crianças e perguntas difíceis. Elas explicam tudo o que os pais não sabem.
Os Pais não Sabem, mas Eu Explico
Texto: Maria João Lopes
Ilustração: Teresa Cortez
Editora: Máquina de Voar
28 págs., 10,60€
(Texto divulgado na edição do Público de 17 de Dezembro, pág. Crianças.)
Para conhecer melhor (no Facebook) o trabalho da ilustradora Teresa Cortez, é este o caminho.