“Uma vez, na verdade, era uma terça-feira, o urso estava na orla de uma grande floresta a olhar fixamente o céu. Lá bem no alto, um bando de gansos voava em direcção ao sul.” Este é o início de um livro que foi publicado pela primeira vez em 1946, mas já nessa altura se antevia o absurdo em que as sociedades se estavam a tornar.
Para o urso, era altura de hibernar. E assim fez, deixou-se dormir, como a natureza impõe. O acordar é que não foi lá muito feliz. A floresta desapareceu e uma fábrica enorme foi construída no seu lugar. Procurou pela erva, pelas árvores e pelas flores. Que sítio era aquele?
O mais difícil foi convencer os patrões da indústria instalada de que ele é um urso verdadeiro e não “um homem tonto que precisa de fazer a barba e usa um casaco de peles”. Para provar que é o que de facto é, terá de ultrapassar burocracias, obstáculos e preconceitos. Mas acabará por duvidar da sua identidade e vacilar perante as certezas dos que lhe estão próximos.
Felizmente, não perdeu a lucidez e voltou a casa. “Ele sabia que não era um homem tonto. E um urso tonto ele não era de certeza.” Ainda há esperança.
O Urso Que Não Era
Texto e ilustração: Frank Tashlin
Tradução e edição: Bruaá Editora
64 págs., 13,50€
(Texto divulgado na edição do Público de 4 de Junho, na página Crianças.)
Podem espreitar… mas ler em papel é melhor.