Poucas palavras, muitas imagens e ainda mais ideias nos dá este livro do artista alemão Hans-Georg Barber (que usa o pseudónimo Atak). A abrir, imediatamente depois da surpresa de uma imagem de três gatos assustados em fuga de um pequeno rato, pode ler-se (cantar-se) o “rap do mundo ao contrário”, que começa assim: “O que eu me rio só de pensar/ No que vi para lá do mar!/ Longe na selva bem quente/ Fresquíssimo sob o sol ardente,/ Passeava todo contente/ Um urso branco e gelado./ Perguntava-me eu ainda/ O que faria antárctico animal/ Em terra tão tropical/ Quando um bando de pinguins/ Armou o maior dos chinfrins/ Em cima das minhas pinturas…/ Já viram pincéis com tonturas?”
Diz o autor que este é um livro para novos e velhos. E não está a mentir. Aqui, os caçadores são caçados pelos animais, os cavalos montam homens, jorra fogo das mangueiras dos bombeiros (talvez não se deva chamar-lhes mangueiras…), os bebés dão papa às mães, os leões domesticam palhaços (e exibem-nos no circo) e muitas outras inversões acontecem.
Não se trata apenas de um exercício sobre o que está certo ou errado, mas um pretexto para reflectir e mudar (quem sabe) a perspectiva do que nos habituámos a aceitar como imutável. Referências a vários universos literários infantis enriquecem um livro com uma preciosa expressão plástica. Uma delícia para quem está cansado de ilustração sem textura.
O Mundo ao Contrário
Texto e ilustração: Atak
Tradução: Isabel Minhós Martins
Edição: Planeta Tangerina
32 págs., 13,50€
(Texto divulgado na edição do Público de 18 de Julho, na página Crianças.)
Lá dentro, há imagens assim. (Esta foi retirada do competente e sempre atento blogue Hipopómatos na Lua.)
Para conhecerem melhor os trabalhos de Atak, este é o caminho. (Podem ir de costas ou de pernas para o ar…)