Já foi há uns dias e ainda nos estamos a rir

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Humor

Houve um encontro de humoristas no início do festival Livros a Oeste. Já foi há uns dias, mas a inércia de Letra pequena para a escrita em cima do acontecimento conjugou-se com a clara inaptidão para negociar tempos de antena em montras mais visíveis. Resultado: aqui fica um texto com dias de atraso e publicado nesta humilde janelinha…

(A foto não espelha de forma alguma os momentos divertidos que aconteceram depois. Os convidados ainda estavam a fazer cerimónia… e a tentar livrar-se das pastilhas elásticas que mastigavam ao chegar ao palco.)

Era a primeira das conversas nocturnas do Festival Literário Livros a Oeste, que decorreu na Lourinhã de 5 a 9 de Maio. Título: A Rir se Castigarão os Costumes. Convidados: Eduardo Madeira, Filipe Homem Fonseca e Nuno Duarte.

Se pensa que a famosa pergunta “Onde estava no 25 de Abril?” tem a assinatura de António Baptista Bastos, está enganado. “As pessoas convenceram-se mesmo de que a frase era dele, mas não. A culpa é minha”, disse Eduardo Madeira, como que a desculpar-se. “Já não se aguenta aquilo, não é?” Gargalhada no auditório.

Falou-se também de coisas sérias, como o trabalho de investigação de Nuno Duarte para a série Conta-me como Foi e de como ultrapassou obstáculos e impôs pormenores de carácter polémico. No entanto, seria impossível não rir perante um painel de três autores (e às vezes intérpretes) de piadas ou frases que vão ficando na nossa memória colectiva. Mesmo quando não sabemos o nome de quem as criou.

O moderador do encontro, João Morales, recordou que conheceu Filipe Homem Fonseca depois de ter dito uma “laracha” do Herman José (pensava ele) durante uma festa de um amigo comum. Filipe escutou e disse-lhe: “Fui eu que escrevi isso.” E era verdade.

Nenhum dos dois se conseguiu lembrar de qual era a expressão, mas o humorista justificou a sua atitude de o revelar logo ali por naquela altura estar em início de carreira e “cheio de pica”. Agora já não o faz, mesmo que se reconheça no que escuta por aí.

O humor “assente na actualidade”, as piadas que nascem de “acasos ou enganos” (como “estás a arranjar lenha para te enforcar”), “a fórmula matemática do humor” e a impossibilidade de fugir a fazer “paródias” à volta do futebol foram alguns dos temas de uma conversa viva e bem-disposta.

Filipe Homem Fonseca assumiu as suas dificuldades criativas perante os temas da “bola”: “É o meu óleo de fígado de bacalhau.” Risos na sala.

Pelo meio, foram recordados, em vídeo, episódios hilariantes dos Contemporâneos e de outros trabalhos dos autores, como guionistas e/ou intérpretes. Entre eles, o inesquecível Lobo Antunes, estrela da publicidade (2008), com Eduardo Madeira. E outro mais recente: Los Madraços – Piquenicão (Eu quero ver o Tony Carreira), 2014, com Vasco Duarte e Filipe Homem Fonseca.

Depois do visionamento deste último, Filipe Homem Fonseca ameaçou abandonar a sala, “embaraçado” com a sua prestação no vídeo. (É bem divertida.)

No final, viu-se e escutou-se o célebre “hino” Salvem os Ricos, com cantores a fazerem deles mesmos (Ana Bacalhau, António Calvário, Sérgio Godinho, Rui Reininho, Olavo Bilac, etc.) e actores e humoristas a fazerem de cantores (Nuno Lopes/Jorge Michael; Bruno Nogueira/Bill Kaulitz, Tokio Hotel; Eduardo Madeira/Axl Rose, Guns n’Roses; Manuel Marques/Bob Dylan; Carla Vasconcelos/Adriana Calcanhoto).

Natureza “suicida” dos humoristas

Durante a sessão, houve tempo ainda para, muito a sério, se revelar que os humoristas são sujeitos a pressões e controlos vários. Segundo Eduardo Madeira, o fim do programa Estado de Graça poderá ter resultado da “irreverência” de alguns sketches. “Por acaso tinha imitado o Miguel Relvas”, diz com ar inocente…

Mas foi na história que contou sobre a zanga do treinador Toni que se revelou a verdadeira natureza “suicida” de quem trabalha com o humor. Não conseguem calar uma piada que lhes ocorra. Se não for dita, entope-se-lhes a garganta e falta-lhes a respiração. É por isso que correm tantos riscos.

A história: depois de uma rábula em que o humorista e actor interpretava um Toni alcoolizado (programa Anticrise, 2013), a propósito da sua passagem pelo Irão, o treinador reclamou. Zangado, assegurou-lhe que não bebia, pelo que era grande o desagrado por aquela falsa imitação, sentira-se “achincalhado”.

Eu gosto do Toni, não queria ficar zangado com ele, pedi-lhe desculpa”, conta Eduardo. Quando a conversa já tinha serenado, combinaram jantar juntos. E diz o humorista: “O Toni escolhe o vinho.” Tudo estragado outra vez. E nova gargalhada no auditório.

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