Um rapaz fala do seu avô e vai desvendando a vida da família, animais incluídos. Enquanto isso, cresce. Entre memórias e novidades, como os potenciais novos companheiros da mãe (“quando os namorados aparecem em minha casa, eu ligo a televisão e vejo desenhos animados”), o pequeno revela desejos e segredos.
Ter um cão que se chamasse Xrrap e um sonho muito secreto: “Gostava de saber em que sítio do mundo vive o meu pai verdadeiro. Gostava de ouvir a voz dele. Gostava de saber se eu sou parecido com ele. Gostava de saber se ele também adora pudim de laranja.” As visitas a casa do avô aos fins-de-semana fazem-no feliz. E não é só pelas torradas, que “são maravilhosas”, é pelo carro comprido e pelo Limão, o gato que “tem mais de quinze anos, ouve mal, vê mal” e que já foi aspirado…
Quando o rapaz faz nove anos, o avô oferece-lhe a arca que tinha recebido de seu pai, que lhe disse: “Guarda dentro dela os teus sonhos e tesouros que encontrares.” A criança há-de encontrar um caderno com animais inventados: uma “baláguia”, que “voa e nada” e “chega a pesar várias toneladas”, ou um “bacalhurso”, que “vive nos mares gelados” e “não sabe voar”.
Na arca do avô Noé sobra ainda espaço para os pensamentos secretos do neto, que Francisco vai registando num pequeno caderno. Um livro muito terno.
A Arca do Avô Noé
Texto António Mota
Ilustração Cristina Malaquias
Edição Edições ASA
48 págs., 11,50€
(Texto divulgado no Público de 21 de Junho, na página Crianças.)