A capa desafia de imediato o leitor, pois parece enganadora. O título fala de um barco, mas é um avião que chama o nosso olhar. Só depois se vê o chapéu do rapaz. E lá está ele.
“O pai lia o jornal no pequeno canto livre da sala. Ligava o candeeiro junto da janela em pleno dia e passava os olhos pelas boas notícias. Com as más, o rapaz fazia aviões de papel. Com tanta má notícia pela casa, a mãe andava triste, zangada, irritada: porquê assim? Para quê aquilo? Até quando isto?” É com estas palavras que se entra numa história que, como todas as boas histórias, não é apenas para crianças. Será fácil concluir que o rapaz tinha sempre bastante matéria-prima para os seus voos. Mas os objectos, as estantes, as paredes, o tecto, tudo se transformava em obstáculo para a liberdade de voar. E desfez-se deles. “A mãe deitava as mãos à cabeça e o pai deitava a cabeça nas mãos.” Por pouco tempo.
“A mãe sempre dissera que as novidades têm asas. Ora, se cada um se concentrasse numa boa novidade, conseguiria voar com ela. Foi dito e feito.” Se Eugénio Roda brinca com as palavras (“os presentes demoraram a tornar-se ausentes”, “pela primeira vez se ouviram cantar os cantos à casa”), André da Loba brinca com a escala. O resultado é um belo livro. Nele também se aprende a construir aviões e barcos a partir de uma folha de papel. Há instruções para a dobragem de ambos.
O Barco de Papel foi apresentado ontem (dia 21 de Fevereiro) na Biblioteca Municipal de Aveiro. E já voa nas livrarias.
O Barco de Papel
Texto Eugénio Roda
Ilustração André da Loba
Edição Bags of Books
22 págs., 9,60€
(Texto divulgado na edição do Público de 22 de Fevereiro, página Crianças.)
Na próxima terça-feira, alguns felizardos conseguirão conversar com Eugénio Roda sobre o livro (e decerto sobre muitas outras coisas, porque ele tem uma grande mobilidade… de pensamento). Pena que as inscrições já fecharam. (Letra pequena distraiu-se com as datas. Aceitem as nossas desculpas.)