Hoje é dia de festa nas livrarias independentes

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Para escolher onde quer passar este Dia da Livraria e do Livreiro, venha por aqui. Para ler o que se escreveu no Público, o caminho já é outro.

Letra pequena deixa aqui na íntegra as respostas que Fátima Ribeiro de Medeiros nos enviou via email.

Apresentação

Sou a Fátima Ribeiro de Medeiros, docente e investigadora em literatura e ainda livreira, três amores que se encontram na paixão pelo livro e pelo desenvolvimento da leitura, paixão tornada forma de vida.

Não consigo pensar o meu quotidiano presente e futuro sem livros e, portanto, sem leitura. Costumo dizer que a leitura está no meu ADN.

Ler e dar a ler é para mim mais do que uma forma de estar na vida, é algo que parece brotar de dentro de mim, uma pulsão, uma urgência, um ideal. É uma forma de liberdade e de construção, de mim, dos outros, do mundo.

O significado deste diploma

Decidiram vários elementos do Encontro Livreiro (movimento criado em 2010 por Manuel Medeiros, por Luís Guerra e por mim própria, ao qual tem vindo a aderir muita gente que se entende como gente dos livros, adesão que se concretiza pelo vir, pelo estar e pelo permanecer no dia e hora e nos dias e meses seguintes pelo agir, até novo Encontro), atribuir a Fátima Ribeiro de Medeiros e a Manuel Pereira Medeiros, os livreiros da Culsete, o diploma LIVREIROS DA ESPERANÇA ESPECIAL CULSETE 40 ANOS, decisão decorrente da passagem em 2013 do 40.º aniversário da nossa livraria, a Culsete.

Medeiros

Decisão tomada à nossa revelia e tornada pública no Encontro Livreiro, o blogue do movimento. Se tivéssemos tido conhecimento prévio desse intento teríamos pedido para que não avançasse, pois não parece justo receber um diploma que nós próprios concebemos e decidimos entregar a livrarias independentes com tradição de promoção de leitura. A subscrição do diploma teve a adesão de centenas de pessoas, conhecidas e desconhecidas, de perto e de longe, pessoas muito distintas umas das outras, mas que têm em comum o serem leitores e daí tirarem muito proveito e fruição.

Eu própria e Manuel Medeiros consideramos este diploma um dos melhores galardões que qualquer livreiro pode desejar, por partir de dentro, das gentes do livro. Porque estamos todos num mesmo barco, como escreveu em devido tempo Rosa Azevedo. Por isso, depois da surpresa inicial, decidimos aceitar com muito gosto e alegria essa distinção. É gratificante perceber como tanta gente, amigos e conhecidos, mas também desconhecidos, aprecia o nosso trabalho e o apoia. Muita gente de fora de Setúbal tem aparecido na Culsete só para a conhecer, porque leram sobre ela, porque mal acreditam que uma livraria independente, uma pequena livraria, consiga marcar assim uma cidade, uma região, um tempo, saindo desses limites de muitas formas.

Aqui fica o meu agradecimento a todos eles e muito particularmente ao grupo de liderança deste diploma, a Sara, a Rosa, o António, o Joaquim, o Zé Teófilo, o Luís. Bem hajam!

Em 15 de Setembro de 1989, Manuel Alegre deixou escrito que nós éramos “os outros livreiros da esperança”. A frase, que tomáramos como mote para designar os diplomas atribuídos pelo EL, já nos distinguira desde então. Agora é a confirmação pública dessa distinção.

É também um redobrar de responsabilidade. Se nunca pensámos desistir nem por um segundo do caminho delineado por ambos em 1973, quando eu e Manuel Medeiros decidimos mergulhar de corpo e alma no projeto Culsete, fazendo dele o segundo objectivo da nossa vida (o primeiro foi/é a nossa família), agora, mais do que nunca e por diversas razões, há que redobrar a nossa criatividade e o nosso empenho, já que há cada vez mais gente a confiar em nós. Tudo farei, em conjunto com a minha equipa, para não desapontar ninguém, para poder continuar a sentir tão grande apoio.

Receber este diploma no dia 30 de Novembro, o DIA DA LIVRARIA E DO LIVREIRO, tem um sabor especial. Este é o nosso dia, o dia de todos os que se consideram filhos da leitura, todos os que amamos e defendemos a nossa mãe-leitura até às últimas consequências. Livreiros e leitores. Só por si é um grande dia de festa que na Culsete será vivido mais intensamente por esta atribuição.

O DIA DA LIVRARIA E DO LIVREIRO

O DIA DA LIVRARIA E DO LIVREIRO é de grande importância para todas as livrarias independentes. Trata-se de uma organização conjunta do movimento Encontro Livreiro e da Fundação José Saramago que vai no segundo ano, mas que este ano está a ter uma adesão bastante boa e que se quer que continue a chegar a mais e mais livreiros. É algo que, como o Encontro Livreiro, veio para ficar. Não nos faltam ideias para ir alimentando este DIA, o DLL. Algumas estão já na calha para o próximo ano. Espero que todos aqueles que visitarem no próximo dia 30 a sua livraria independente tenham acesso ao material que foi preparado especialmente para distribuição neste dia.

Quero deixar aqui uma vez mais a frase de Manuel Medeiros (inserida no seu livro Papel a Mais, de 2009, mas pensada e verbalizada muito antes disso) sobre a missão e paixão que deve animar o livreiro: Entre o livro e a leitura estou eu, o livreiro. O escritor publica a escrita, o editor publica o livro, o livreiro publica a leitura.

Cada vez mais os livreiros independentes têm de se unir, precisam de se unir, criar formas de união que ultrapassem o querer e o dizer, para poderem agir como um bloco contra todos os ataques e investidas que chegam de muitos lados. Precisamos também de ter o leitor do nosso lado. Temos de ser todos a uma só voz. Sem medos. A nossa situação há muito que é conhecida e reconhecida. Não me refiro apenas à situação financeira, mas também quero falar nela. Não é de agora que as grandes cadeias de venda de livros andam a comprometer a saúde financeira das livrarias independentes com políticas de venda sem a mínima ética. Mas este ano refinaram a sua estratégia. E nós unimo-nos. E estamos aí a enfrentá-los, a mostrar-lhes que vender livros não é o mesmo que vender batatas, ou maçãs, ou enlatados. Que vender livros é uma atitude cultural e civilizacional.

Nós, livreiros independentes, não queremos ser daqueles que se lamentam, dos que põem as mãos à cabeça e falam sem dar um passo, não somos dos que fingem não ver nem perceber. Nós somos aqueles que de forma muito consciente e criativa, queremos agir, queremos arranjar soluções para atenuar e alterar este estado das coisas.

Já disse e escrevi algures que apenas uma livraria independente oferece uma verdadeira bibliodiversidade. Disse-o e reafirmo-o agora. Dias como este também ajudam a reflectir sobre estas questões. Por isso convido todos a visitarem a sua livraria de proximidade, a juntarem a sua voz à do livreiro, contribuindo para a manutenção de espaços do livro que se abram ao desenvolvimento cultural do seu país, ajudando a formar cidadãos mais informados, mais cultos, mais actuantes, mais livres.

Um Viva às livrarias independentes! Um Viva a todas as livreiras e livreiros! Um Viva a todos os leitores! Boas leituras!”

 28 de Novembro de 2013

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Eis também as respostas completas de Sérgio Machado Letria (Fundação José Saramago) e de Luís Guerra (Encontro Livreiro)

O que esperam deste Dia da Livraria e do Livreiro (e dos próximos)?Esperamos que o Dia da Livraria e do Livreiro, este e o dos próximos anos, sirva fundamentalmente para destacar a livraria e o livreiro como elementos centrais no percurso do livro – desde a ideia e a escrita do autor até à leitura e à reescrita de cada leitor – e na consolidação da leitura como pedra angular do desenvolvimento de um país que se queira verdadeiramente livre.

Esperamos ainda que sirva para que os livreiros, apesar das duríssimas dificuldades que enfrentam, possam receber os seus leitores, premiando-os e brindando-os das mais diversas formas. Muitos livreiros lutam hoje pela sobrevivência, mas gostam muito do que fazem, querem defender a sua profissão e sabem que os leitores são os seus principais aliados: apesar disso e por isso, estão em festa – a festa do livro e da leitura – e convidam os leitores a visitá-los nas suas casas. Esperamos, por isso, que os leitores acorram às livrarias num dia que, sendo da Livraria e do Livreiro, é também o dia do Leitor.

Vivemos um tempo agreste de ditadura do efémero, do fugaz, do espalhafatoso e não um tempo do que é perene, do que é duradouro, do que perdura para além dos tops, dos holofotes, da fanfarra ensurdecedora que nos distrai do essencial.

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Por todas estas razões, estamos muito feliz pela parceria que a Fundação José Saramago e o Encontro-Livreiro, uma entidade ligada a um autor e um movimento que quer juntar as gentes do livro, estabeleceram desde o ano passado e desejam que cresça e se desenvolva por muitos e longos anos. (Foto importada daqui).

Breves palavras sobre o tema proposto para este dia: a livraria, o livreiro, a leitura.
Achamos que, sendo esta data, a partir deste ano, designada como Dia da Livraria e do Livreiro, faz todo o sentido centrar a nossa reflexão na livraria e no livreiro, mas também no leitor, pois é ele que justifica, no fundo, todos os intervenientes na vida do livro. Se todos continuarmos apenas preocupados em arranjar clientes, mais clientes, e apenas mais clientes – atraindo-os com as mais variadas formas de folclore ou como se estivéssemos a anunciar a banha da cobra – não vamos conseguir defender e salvaguardar uma rede livreira (e também editorial, acrescento) diversificada e rica. Uma rede que não retire ao leitor a sua sacrossanta liberdade de escolha.

No fundo, no mundo do livro não lutamos por nada de muito diferente daquilo por que lutamos na sociedade.

Os tempos são difíceis? São. Mas é na tomada de consciência dos problemas e dos erros das opções e soluções que têm sido seguidas que está a semente de um futuro diferente e melhor. E nós acreditamos que é na promoção da leitura e na procura de mais leitores, cada vez mais leitores – livres e conscientes e com possibilidade de aceder a um fundo editorial muito diversificado – que está o futuro das gentes do livro (autores, editores, livreiros, bibliotecários, tradutores, professores, investigadores, jornalistas e demais profissões que se relacionam com o livro).

A leitura é, ou pode ser, o elemento agregador das gentes do livro.

28 de Novembro de 2013

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