A Cadeira Que Queria Ser Sofá
Texto Clovis Levi
Ilustração Ana Biscaia
Edição Lápis de Memórias
100 págs., 16 euros
Um livro com sotaque brasileiro em três histórias singulares: Espanto feliz¸ O piano de calda e A cadeira que queria ser sofá. Todas sobre a morte. De um país, de uma família de chocolates e de uma cadeira. Não são narrativas mórbidas, há até bastante espaço para a ironia, mesmo que não sejam perceptíveis por crianças com níveis de leitura iniciais. Mas lá chegarão. O autor, Clovis Levi, é professor e crítico de teatro infantil. No primeiro conto, um rei infeliz proíbe a morte, depois os nascimentos e, mais tarde, a alimentação. “O Sol, vendo um reino sem crianças e sem jovens, decidiu nunca mais aparecer ali. Então, caiu a noite eterna.” Mas a luz há-de voltar. Na segunda história, o bombom mais novo da família está ansioso por ser escolhido por uma criança. Pensa que vai passear e conhecer o mundo. “Não é passeio, é morte”, grita-lhe “um chocolate bem amargo”. O conto que dá nome à obra apresenta-nos uma cadeira antiga que pertence à bisavó Clotilde e que gostava de ser um sofá. No final da vida de ambas, são separadas e consideradas inúteis. Uma é queimada e a outra internada. Embora não pareça, a história tem um final feliz. Só que não neste mundo. As ilustrações de Ana Biscaia, ora sombrias, ora mais luminosas e bem-humoradas, mantêm uma ligação estreita com o sentido do texto, sem se lhe prender demasiado. Há soluções gráficas muito eficazes, mas outras (no segundo conto) tornam o texto pouco legível. Um livro original.
(Texto divulgado na edição do Público de ontem, 5 de Maio, na página Crianças.)
Festival de Marionetas em Lisboa
Na foto, Esperto Como Um Burro (no FIMFAlx12). Uma das escolhas de agenda de Helena Melo.