Palavras pintadas

Este título (Palavras pintadas) é uma descarada apropriação do nome escolhido por Rita Taborda Duarte para o painel dedicado à ilustração (ou narrativa gráfica, como muito se ouviu dizer na Gulbenkian) na XVIII Conferência sobre Literatura Infantil.
A imagem do Libro de las Preguntas foi levada por João Paulo Cotrim, mas o responsável pela editora que o produziu, Vicente Ferrer, também estava na mesa do painel (segundo dia do encontro). A editora é de Valência e tem o nome de Media Vaca (traduzindo, meia vaca).
Vicente Ferrer desculpou-se por não falar português e por “não ter tido a inteligência de trazer livros para mostrar”. Antes, porém, dirigiu-se à assistência e pediu que quem conhecesse a Media Vaca erguesse a mão. Seis pessoas fizeram-no. Comentário: “Bom, sempre são mais que em Valência…”
E o tom da comunicação foi mais ou menos este todo o tempo, a provar que se pode ser sério sem se ser fúnebre.
Depois de ter participado em muitas discussões com editores e de esbarrar com múltiplos obstáculos face às suas ideias, relativamente a formatos, cores, grafismo e chegar a “soluções injustas”, Vicente Ferrer percebeu que o melhor era ser ele a fazer os livros que lhe interessavam. “Livros que eu gostava de ter tido, que gosto de ter agora e que me agrada que as crianças possam vir a ter.”
Mais uma vez com ironia e graça, disse estar sempre a falar de crianças, mas que acaba por não conviver com elas. “Na editora somos só dois, trabalho todos os dias. Nem filhos tenho, valem-me os sobrinhos.”
Citou a ilustradora Kveta Pacovska, que diz que “o livro ilustrado é a primeira galeria de arte que uma criança visita”, e não tem dúvidas de que a variedade é muito importante quando se trata de livros para os mais novos.
A respeito deste livro de que aqui reproduzimos a capa (mas que não foi mostrada lá) fez rir todo o auditório. O título é em catalão. Vertendo para a língua portuguesa, obtém-se Não Tenho Palavras. E não tem mesmo. Isto é, só tem estas, as que compõem o título. Dá-se então o maior absurdo: quem não é catalão não o compra por isso mesmo, quem é catalão não o compra porque não tem palavras…
A Media Vaca é uma editora muito criativa, nasceu em 1998 e trabalha com “textos conhecidos e aprovados, tendo o intuito de provocar uma nova leitura sobre eles”. Uma das vantagens, disse Ferrer em Lisboa, “é a de que os autores já estão mortos” e assim não interferem no processo de ilustração.
O editor não dá prazo de entrega aos ilustradores porque acredita que é preciso pensar bem e durante bastante tempo para que surjam trabalhos com imaginação e originalidade. “Comigo, os ilustradores podem demorar um ou dois anos a terminar um trabalho.” Noutro âmbito, é implacável. E ainda bem. “Há uma gramática visual que eles têm de dominar. E a ilustração deve ir sempre além do texto.”
Só publica três livros por ano, mas são todos adoráveis. Apetece mesmo tê-los.
Como havia pouco tempo e muita gente, faltou a coragem a quem mora deste lado do ecrã para lhe pedir que explicasse o nome da editora. Não se desistirá no entanto de obter uma explicação. Para partilhar depois.
Venha daí connosco conhecer o que a Media Vaca tem disponível para crianças (niños). Entre

2 comentários a

  1. Esta editora é muito boa, digo eu!Literatura gráfica infantil ou mais crescida mas sempre muito boa.E logo este livro dum senhor, Arnal Ballester, o qual é ilustrador e professor na Escola Massana de Barcelona. É um ilustrador de grande economia formal com uma pontinha de surrealismo.VG

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