O autor lembrou a etimologia da palavra “cryamça”, com o significado de “ser humano”, mostrou-se convencido de que a “literatura transforma” e falou na leitura como “educação para a liberdade, não no sentido político, mas de identidade”.
Contou, com a sua graça discreta e humor contido, como foi chamado à PIDE, em Dezembro de 1973, por ter “desrespeitado a religião católica”. Tinha escrito o livro O Menino Jesus não Quer Ser Deus.
Disse ainda que à entrada de qualquer livro há um pressuposto dirigido ao leitor: “Para aqui entrares, tens de fazer de conta que acreditas.”
Se Manuel António Pina não sabe para quem escreve, Letra pequena online sabe. Escreve para todos.
Na sessão inaugural, o ministro da Cultura, Pinto Ribeiro — antes de partir para Vila do Conde (onde iria destacar o papel da requalificação patrimonial como factor de qualificação das pessoas) —, tinha afirmado acreditar que “ler é essencial na construção da identidade e liberdade” e que através da leitura se aprende “a lidar com os problemas do mundo”, sejam a morte, o ciúme ou “um pai furioso”.
Sugeriu a todos os presentes que lessem com e para as crianças sem esconderem os problemas reais que têm. Porque, disse, “o que é constitutivo da vida é ser problemático — individual e colectivamente”.
E perguntou se alguém alguma vez repintou um quadro (obra de arte) para o tornar mais acessível ou recompôs uma partitura (de música clássica) com o mesmo objectivo.
Mais adiante viria a concluir que “não se lê porque não se fala”. Deu o exemplo de uma família reunida em casa: “Um fica em frente à televisão, outro vai para o computador, outro envia mensagens no telemóvel.” Conclusão: “É só vidro.”

E a certa altura citou a frase de D. Francisco Manuel de Melo: “O melhor livro é a almofada e o bastidor.”
O tema do painel era o humor, embora a sua designação fosse Palavras trocadas.
Se houvesse avaliação do debate (como se faz em política), o ilustrador teria ganho. Isto porque foi o momento em que a comunicação entre orador e público aconteceu sem esforço da assistência. E houve humor. Como se esperava.
Parabéns à actriz Cristina Paiva, que, entre cada painel e com registos muito diferentes de actuação, conquistou imediatamente toda a audiência para os temas que introduzia. Uma versatilidade de interpretação que merece ser registada.
Parabéns também à Rita pelo excelente “trailer” que transmite tão bem o filme a quem, infelizmente como eu, desta vez não pode lá estar…