Nós íamos prevenidos, mas a maioria dos outros passageiros não. Provavelmente não nem sequer viram o email enviado às 8h30 pela TAP: “Estimado Cliente, Pronto para viajar aos anos 70? A TAP leva-o numa viagem única, proporcionando-lhe uma experiência de voo inesquecível. Aguce os sentidos e seja bem-vindo ao passado!” O voo partia às 10h15 com destino a Miami e à entrada tantas exclamações de surpresa como de uma certa estranheza, sobretudo nos passageiros norte-americanos, a maioria. “What game is this?” – o famoso Sabichão foi o que despertou mais curiosidade e este foi apenas um dos muitos brindes, “vindos do passado”, que a TAP distribuiu pelos passageiros (a maior “chuva” foi na classe executiva, mas todos tiveram direito a algo). Claro que o maior impacto visual foi logo da tripulação, vestida com uma das mais icónicas fardas da companhia (desenhadas por Louis Féraud), cores fortes (amarelo torrado, vermelho-vermelho, azul marinho) e chapéus a condizer e a pintura retro do avião “Portugal”, um A330-300 (RetroJet, chamam-lhe).
Se o voo foi um regresso ao passado, a primeira manhã em Miami Beach também. A visita pelo Distrito Art Déco, em South Beach, meca do turismo, à volta de Ocean Drive. Aprendemos como o desenvolvimento de Miami Beach (não confundir com a cidade de Miami, a oito quilómetros, para lá da baía de Biscayne), uma língua de terra onde o homem ajudou a natureza (selva) a compor uma ilha-barreira, foi sendo sempre acompanhado por estilos arquitectónicos marcantes – o Art Déco é o predominante (é, aliás, a maior concentração deste género no mundo), mas o Mimo (Miami Modern) seguiu-se-lhe e agora há a arquitectura moderna a que ainda falta dar um nome. Como o nosso guia sublinhou, o nome dos estilos arquitectónicos que se mesclam nesta pequena área só foram dados a posteriori, por isso espera-se pelo novo. Certo é que Miami Beach (e Miami) sempre foi um recreio de arquitectos, ao serviço de grandes fortunas, claro, e agora pouco se pode ver do que realmente iniciou o povoamento da região, a agricultura, no final do século XIX (não havia sequer povoações indígenas, que só vinham a este território para pescar, tal a dificuldade da selva).
E, seguindo na zona “retro” de Miami Beach, também são poucos os “indígenas” que se vêem, devorados que são pelos bandos de turistas. São muitos e muitos em competição kitsch, seja nos carros descapotáveis (sempre que possível com vários extra) com música a competir com a que sai dos bares, seja nas toillettes – menos parece ser mais e transbordam as transparências com fios dentais, as tatuagens, os penteados estranhos.
Claro que Miami é mais do que South Beach – é street art em museu ao ar livre (em Wywood Walls), é o fashion district (mais devaneios arquitectónicos a acompanhar marcas de luxo – na Lowe com toque português: a loja é preenchida ao centro por um espigueiro (na verdade dois a formarem um) que veio de Portugal porque a marca espanhola não os podia tirar de Espanha, onde são protegidos), é a marina e passeios em alta ou baixa velocidade pela baía com o desfilar de casas (mansões) de famosos (não, não vimos nenhum), é o skyline e as vias rápidas como tentáculos, é o espanhol tão (ou mais?) falado quanto o inglês, é a vibração mais latino-americana do que norte-americana (e recusamo-nos a contar as vezes que ouvimos, sim, Despacito). Ah, e é o calor, ao género de sauna, com a humidade a devorar-nos. Mas só pensamos assim até entrarmos na água – depois, sentimos frio cá fora (e os 30 graus aquáticos são incomuns, ouvimos dizer, um pouco “fresco” para os locais).
A Fugas viaja por Miami a convite da TAP