São 16h de domingo em Saïdia (província de Berkane, nordeste de Marrocos). Na praia diante do Hotel Be Live Collection, a zona concessionada, guarda-sóis toscos de palha como que a fazer a demarcação, poucos são os que aproveitam a sombra. São mais os corpos que se estendem ao sol nas espreguiçadeiras brancas, invariavelmente cobertas com as toalhas azuis do resort, do que os que procuram a sombra. Confesso: sou eu e mais meia dúzia de pessoas. Há quem se adentre no mar e caminhe metros e metros e continuamos a ver-lhes a cintura. Há quem rodeie os quatro dromedários que estão à espera de passeantes, mas só encontram fotógrafos e poseurs. Há vendedores que não insistem e quase fazemos, afinal, uma pintura de hena pelo sorriso com que nos respondem a uma nega. Há uma aragem persistente e pequenas ondas que quase não o chegam a ser – fica a espuma dos dias iniciais do período estival no Norte de Marrocos, com a Argélia à vista.
Nós chegámos no sábado, no primeiro charter da temporada saído do Porto; horas antes havia saído o de Lisboa. O destino é o aeroporto de Oujda. Daí, são 45 minutos de transfer, muitas vezes com o arame farpado da fronteira com a Argélia quase ao lado da estrada, até esta estância balnear criada quase de raiz para se tornar uma área de lazer. Continua, aliás, a crescer. Há inúmeros empreendimentos, casas e hotéis ainda em tijolo e cimento, e até um parque aquático que deveria abrir em Agosto mas pelo andar das obras será para o próximo ano.
O Hotel Be Live não está nem a metade da ocupação. O português e o espanhol são as línguas mais ouvidas – uma companheira de viagem acerta: “É o Portugal dos pequeninos”. Mas, ainda no sábado, pouco tempo antes de o jogo Juventus-Real Madrid encher o teatro, escutamos italiano, francês e, horas mais tarde, no Sports Bar transformado em discoteca com animadores e tudo, ouvimos techno russo – discos pedidos por um casal da Rússia que, coincidência, ocupa as espreguiçadeiras contíguas à nossa, agora com os dois filhos.
Voltamos à praia. Há uma tranquilidade pouco habitual para os conhecedores da cacofonia das praias portuguesas. Além do mar, de vozes e risos, chega-nos o som abafado da música que anima um dos complexos de piscinas do resort – há um outro onde a tranquilidade é santo-e-senha. Tão abafado que é impossível discernir qual a música. Certo é que “Despacito” confirma-se como o grande hit (pré-)estival de 2017, ouvido a cada hora.
E se nesta tarde, enquanto escrevemos, a aragem se está a transformar em vento e a provocar uma pequena debandada da praia, a manhã foi de ausência de vento e o passeio de catamarã foi mais um embalo pelas águas mansas do Mediterrâneo. A saída foi da marina, 15 minutos a pé pela praia, nem cinco minutos de carrinha – não há trânsito, pelo menos por enquanto, em Saïdia. Com tamanha tranquilidade nas quase duas horas de catamarã, não resistimos depois à velocidade da lancha rápida que nos levou quase à fronteira com a Argélia: Marrocos à beira-mar, Argélia a meio do monte que constitui o promontório que nos barra o horizonte a oriente (a ocidente vemos os contornos de ilhas). Quando desembarcamos perguntam-nos, em francês, de onde somos. Portugal não chega. “Madeira?” Sim, o Cristiano Ronaldo está na boca das gentes (e nas televisões – veremos um documentário sobre ele, legendado em árabe, no Sports Bar).
E antes que o vento nos leve, vamos mergulhar no Mediterrâneo. Logo contaremos como estava a água.
P.S. A água estava perfeita. Difícil foi sair. Depois da saída, o vento não deixou muito mais tempo na praia. Vamos à piscina. “Frio”. Vamos ao bar, comemos um crepe e terminamos a tarde no jacuzzi do quarto – temperatura: ideal.
A Fugas viaja a convite do Turismo de Marrocos em colaboração com a Solférias e os hotéis Be Live