Atrasos? “Ka tem problema”, temos uma ilha sagrada

Guiné-Bissau - Paulo Pimenta

Chega-se a Bissau à noite, 28 graus às 23h logo para inícios de conversa. Do aeroporto Osvaldo Vieira ao Hotel Ledger não são mais de cinco minutos e até lá pouco se cheira desta capital da Guiné Bissau (os mais fortes ainda vão à discoteca Balafon, mas dos fracos não reza a história…). Espera-se pela manhã e aí sim, eis-nos em África – e nem é preciso muito, basta que se cruzem os portões do hotel: táxis azuis em todas as direcções, buzinas alto e bom som, uma avenida forrada a poeira alaranjada, saldo de telemóvel à venda numa barraca plantada na rua, “mulheres-capulanas” de todas as cores com bacias à cabeça, crianças de uma escola corânica cantam e pedem fotografias. Falam português, mas pouco. “Eu chamo Emília “, “Eu chamo Patinho”. A alegria não precisa de mais, tem uma espécie de língua franca que se expressa com sorrisos abertos.

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E depois disto estamos prontos para o que há-de vir. E vem um trânsito caótico até ao centro de Bissau, cidade ainda a lamber feridas de cicatrizes várias. Passa-se o mercado do Bandim, o maior da cidade, e vê-se de tudo à venda: artesanato, roupa, televisões, frigoríficos, mangas e tudo o mais que vier à rede. “O que precisar, está tudo aqui”, conta Manuel Alípio da Silva, director-geral do Turismo da Guiné Bissau.

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Vamos em direcção ao porto, onde apanharemos um barco que nos há-de levar à ilha de Rubane, uma das 88 que compõem o arquipélago dos Bijagós, mas antes ainda passamos pela Praça dos Heróis Nacionais, gigantesca rotunda onde está instalada uma espécie de parque infantil e ponto de encontro das famílias de Bissau. Até à Fortaleza de São José da Amura é mais um instante e daqui ao porto uns quantos solavancos por estradas esburacadas. No porto, por fim, ainda esperamos mais de uma hora até zarparmos e nos entretantos vemos centenas de guineenses num barco apinhado – eles e pelo menos uma vaca e um porco.

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Nós largamos à segunda tentativa, que houve uma avaria que não estava no programa. Deixamos o cais às 13h e vamos contra a maré. A viagem há-de durar mais de três horas e a primeira é feita de emoções e vários banhos com que não contávamos. “Ka tem problema ” – “não tem problema” em crioulo: o sol está envergonhado mas cumpre a sua função.

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Chegamos ao Hotel Lodge Ponta Anchaca, da francesa Solange Morin, já depois das 16h e só nos resta mergulhar nas águas calmas e tépidas. Depois disto, um copo de vinho branco e mancarra (amendoim), outra vez para inícios de conversa. As malas ainda não chegaram, mas quem precisa de roupa lavada quando tem peixe fresco e uma ilha sagrada aos seus pés?

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Sandra Silva Costa (texto) e Paulo Pimenta (fotos) viajam a convite da TAP e do Ministério do Turismo da Guiné Bissau

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