Lembram-se qual é a primeira coisa a fazer nos Açores ao acordar? Precisamente. Assim que acordamos, corremos para a janela. Passa pouco das 7h na Horta e temos nova perspectiva do Pico, mais uma e diferente. O ponto mais alto do país tem muitas caras, consoante se veja de cada uma das três ilhas do triângulo. Daqui, do Faial, mostra-se mais na sua imponência vertical, dando a impressão que a ilha começa e acaba na montanha.
À janela, então, mas não sabemos interpretar os sinais, somos ilhéus de passagem. Há nuvens pousadas no cume, mas da chuvada torrencial que nos despertou às quatro e meia da madrugada já só há vestígios. Será que sairemos ao mar? Pelo sim, pelo não, apetrechamo-nos em conformidade e deixamos o hotel em direcção à marina. Antes, porém, pausa para café naquele que será porventura um dos maiores ícones da Horta: o Peter Café Sport, e com isto já estão feitas as apresentações, muito prazer.
Norberto Serpa, também ele uma instituição na cidade, entra pouco depois. Não o conhecíamos pessoalmente, mas é impossível confundi-lo. Barba e cabelo grisalho, lenço vermelho amarrado na testa, olhos azuis a brilhar, pele curtida pelo sol. “Então digam lá ao que vêm.” Nós viemos pela baleia, ora essa. “É isso que querem? Vamos a isso.”
Norberto, um picaroto que se fez faialense “há muitos anos”, é um dos vários empresários que na Horta se dedicam ao negócio da observação de cetáceos: golfinhos, cachalotes, baleias. Esta manhã está confiante de que vamos ver a baleia-azul. Como?, perguntamos, quase incrédulos. “A baleia-azul, não acreditas? Tem andado por aí.” Para as saídas dos seus barcos, Norberto vale-se da preciosa ajuda dos vigias: se até aos anos de 1980 estes homens serviam para dar o alerta de baleia para a caça (a última foi capturada em 1987), agora patrulham a costa de olhos ao serviço do whale watching. “Trabalho com alguns há 20 anos, eles fazem uma parte importantíssima.”
Norberto sai ao mar com a Fugas e vários amigos a bordo. “Tinha outros clientes, cancelaram ontem. Então telefonei ao pessoal e convidei-os.” Henrique, Dália, Ruca, Teresa, Cláudia; as crianças: António, Maria, Sofia, Julião. Todos a bordo.
Sentamo-nos ao lado de Norberto e vamos escutando as comunicações via rádio. “Pedro, Pedro, a baleia estava ali agora!” “Já a viste, Tiago?” De Norberto ouvimos isto: “Azul? Yeah!” De novo: “Já a viste, Tiago? Essa baleia tem o meu selo.” Norberto esfrega as mãos e continua a vencer as vagas. Vamos em direcção ao morro de Castelo Branco e de repente solta-se um grito. “Está ali o bufo, está ali!” Olhamos em frente e perdemos o instante. Mas daqui a pouco avistamos, à nossa esquerda, novo e potente jacto e vemos um dorso gigantesco a emergir da água. “Wow!”, gritamos todos, e as crianças batem palmas. Era mesmo uma baleia-azul?, perguntamos, ainda pouco crentes. Era, garante Norberto, e depois explica que esta espécie é comum nos Açores. Ela vai mostrar-se mais vezes, e poderemos ver melhor o seu tamanho e o reflexo azul que deixa debaixo de água.
Norberto parou o barco, os vigias continuam a mandar coordenadas, e temos companhia no mar: uma, duas, três, quatro embarcações de observação, mais uma da Polícia Marítima. De repente, Norberto acelera de novo, a baleia volta a aparecer. E desta vez para um espectáculo “raro”: bufa, mostra toda a curvatura da coluna e, antes de mergulhar de novo, vira a cauda, o que “não é muito comum”. “Já não via isto para aí há uns cinco anos”, garante Norberto. Dentro do barco, a emoção é total. Temos lágrimas nos olhos, mas deve ser do vento forte.
Continuamos parados, todos de olhos postos no mar. É preciso ver se há novos bufos, para Norberto conduzir o semi-rígido até lá. Lá está ela, e de novo vira a cauda. “Estamos mesmo em dia de sorte!” Estamos a duas milhas da costa, Norberto conta que já teve de levar o barco até às 15 para ver a baleia. Esta, que pelas nossas contas apareceu umas sete vezes enquanto estivemos no mar (menos de três horas), deve ter “uns 25, 26 metros”. “Mas, cientificamente, a baleia-azul, sendo o maior animal do mundo, pode chegar aos 30 metros”, explica Norberto.
Tínhamos pedido uma baleia, Norberto serviu-a sem dificuldade. Para a próxima, pedimos tudo a que temos direito: queremos baleia-azul, cachalote, orca e golfinho.
Sandra Silva Costa (texto) e Manuel Roberto (fotografia) viajam com o apoio da Direcção Regional de Turismo dos Açores
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Foi uma viagem fantástica e um prazer conhecer o Manuel e a Sandra, muito obrigado pela companhia! Soubemos que assim saímos apareceram os golfinhos, mas a manhã já estava feita, vimos uma baleia-azul a virar a cauda duas vezes!