Galeria de Honra do Rijksmuseum, Amesterdão. Passamos pelas obras dos grandes mestres, Rembrandt em auto-retrato enquanto o apóstolo Paulo, Vermeer e a jovem que, na cozinha, e na doce luz vinda da janela, despeja leite de um jarro. Na superfície dos quadros, a tinta, em pinceladas mais marcadas ou em pontos acumulados, cria a luz. Terão sido estas texturas, golpes de tinta sobre a tela, mas também o realismo de Rembrandt a inspirar Anish Kapoor.
O artista de origem indiana mas a viver em Londres há muitas décadas tem aqui actualmente, e até 6 de Março, três peças feitas de silicone e resina – Internal Objects in Three Parts (2013-15). Atravessamos o espaço da galeria e à nossa direita as paredes parecem ter explodido com inexplicável violência, expondo-se num emaranhado vermelho e branco de entranhas, ossos, tendões. Não se reconhece aqui o Anish Kapoor das superfícies polidas que nos convidam a deslizar para os seus interiores envolventes.
Aquilo que vemos no Rijksmuseum é exactamente o contrário. A primeira reacção é de repulsa mas muito rapidamente transforma-se em fascínio.E, tal como nas superfícies polidas também aqui somos sugados. Aproximamo-nos da peça, que não parece ter princípio nem fim, e fundimo-nos com a carne, o sangue, os tendões. E avançamos, hipnotizados, como se entrássemos para o interior de nós mesmos e não houvesse outro caminho para sair do Rijksmuseum.