Ao pequeno-almoço lá estava ele. Não é o senhor da fotografia. É um de cabelo branco, rabo-de-cavalo e colete psicadélico, preso em alguma trip boa que deve ter acontecido nos anos 60 ou 70. Ri-se, fala sozinho, uma alegria grande. Em Nova Deli, há muitos espíritos assim a vaguear pela cidade. Nessa sala do pequeno-almoço estava a dar Doors e eu só pensava que, se tivesse vindo à Índia na adolescência, quando esta música se misturava com o Siddhartha na minha cabeça, teria ficado como aquele senhor. Se calhar, não teria ficado mal.
Hoje foi um dia de templos. As flores e as suásticas nos hindus, os pés descalços e os cânticos em todos, os pés lavados no templo sikh. No fim de tantos deuses e religiões, já só penso num verso: “The earth, that is sufficient”. Penso neste verso e nos cigarros bidis que comprei. Não têm nada que abra a mente, mas têm um cheirinho de que o meu estado de espírito gosta muito.