Dia 1. descalçadas as botas, não há calos nos pés, que Clermont-Ferrand não é assim grande no que tem de bom para ver. E tem muito, condensado num centro histórico que, iniciado há séculos em plena cratera de um vulcão, foi crescendo para a encosta onde hoje predomina uma imponente catedral, toda ela em pedra vulcânica: negra como a pequena estátua da virgem do século VIII, admite-se, que nos hão-de mostrar numa outra igreja, nem gótica nem revivalista, como esta que demorou sete séculos a concluir, mas românica e feita em calcário, a outra pedra dilecta dos locais.
Sentados na praça central, a aproveitar um sol que, dizem-nos, tem andado arredio destas paragens, é nestes contrastes, claro, escuro, que olhamos, buscando primeiras impressões, para esta cidade, capital da Auvérnia, a que há horas chegamos, vindos do Porto.
Lá, ao jeito da Ryanair, o avião despachou para o chão do aeroporto de Pedras Rubras umas dezenas de melómanos para o Optimus Primavera Sound e carregou-se de gente, muita saudade já, numa lágrima aqui e ali, a caminho de Clermont, onde reside a segunda maior comunidade portuguesa em França. Por muito que os voos low-cost permitam multiplicar as desculpas para um regresso a Portugal – e para muitos, equipados com as cores do vitória de Guimarães, a visita teve um sabor a taça – na hora da partida há sempre um aperto, que nem o corneteiro de serviço que nos anuncia a chegada ao destino, nos aviões a companhia irlandesa, conseguirá aplacar.
Mas amanhã é outro dia: para eles que aqui trabalham, e para nós que aqui viemos trabalhar.
__
Abel Coentrão (texto) e Adriano Miranda (fotos) em Clermont-Ferrand a convite da Atout France