Ora o Pico escondeu-se no sábado mas no domingo, já que a montanha não ia a Maomé, os maomés foram à montanha. Há várias teses e medidas sobre quanto tempo leva a subir – a pé – e a descer – a pé – o Pico. Uma média de cinco horas que ascende às sete ou às três horas e meia, conforme a fonte. Certo é, soubemos nós numa das últimas noites de conversa na ilha com quem a conhece bem, que houve quem lá chegasse em menos de uma hora em 2011. E em corrida. O campeão mundial de cross country de montanha, o escocês Jethro Lennox, que chegou lá em 53 minutos e desceu em 26, e como escreve no seu blogue, deve ser a única pessoa no mundo que fica desiludida ao perceber que há uma estrada até meio do percurso.
Não foi o nosso caso. A verdade é que não podíamos, nem física nem profissionalmente, subir o Pico. Tínhamos sítios para ver, pessoas para encontrar, gente com quem não podíamos deixar de comer sopas (e ter pouco descanso) – mas isso é outra história. Contentes, portanto, por poder subir o Pico até onde ele nos deixava e de ver um dos cafés com melhor vista do planeta. Na Casa da Montanha, uma bica são 80 cêntimos de vista montanha abaixo até ao Faial, vacas, bezerros, retalhos de campo e todas as matizes de verde da cristandade. Tudo incluído.
As paragens, muitas, pelo caminho serviram para travar conhecimento com ainda mais bovinos e com algumas grutas e rastos vulcânicos, um torvelinho de paisagem sempre a mudar mas sempre igualmente bela, ora nuvens ora sol, como o Pico é. E vimos o Pico de perto? Mais ou menos. As nuvens que raramente o deixam sozinho não o largaram, a jogar às escondidas (peek-a-boo, diriam os turistas com que nos cruzámos, Pico-a-boo, ripostamos nós) e, portanto, só lhe conhecemos a côdea. O miolo ficará para outra viagem, mas não podemos dizer que não ficámos a sós com o Pico.
Nos fins de tarde, com a vista que apenas as Lajes do Pico proporcionam, é estar na costa sul de frente para o mar e esperar que o Pico se destape. Às vezes, acordamos com ele límpido e sereno, descascado como uma pirâmide de cacau. É bonita a montanha, pá.
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Joana Amaral Cardoso (texto) e Miguel Madeira (fotos) no Pico