Pouco passa das três da tarde, num dia de semana pacífico e sem história. A manhã começou cinzenta e um pouco húmida, como os Açores são exímios em oferecer aos seus habitantes.
Neste areal pouco afastado de Ponta Delgada, é escassa a presença humana, o tempo não está para grande praia e a temperatura do ar é tipicamente primaveril.
O mar está surpreendentemente calmo, quase imóvel, de uma placidez intrigante, em todo o caso impossível de escapar à atenção do mais distraído. Um, dois, três homens descem a escada de acesso, atravessam a areia, dirigem-se para o mar em passo lento e abeiram-se da água. Uma leve hesitação e o primeiro mergulho acontece, mas não ficam muito tempo.
Sem vento, ruído de automóveis ou murmúrio das ondas, o tempo quase suspende o seu voo. Só uma breve aberta nas nuvens deixa cair a luz solar sobre a areia escura, desmentindo a imobilidade do momento.
Na linha do horizonte, afasta-se lentamente um navio de cruzeiro que acabou de deixar Ponta Delgada, rumo a leste. Mais algum tempo e dissolver-se-á no cinzento do céu, esse implacável devorador das cores que fazem desta ilha a paleta de um demiurgo subtil.