Estamos na neve dos Alpes como se estivéssemos na praia. A estância de Valmorel protege-se com escarpadas montanhas ainda branquinhas e mostra-se, lá em baixo, com todo um vale já a parecer e cheirar a Primavera. Em comum, em cima e em baixo, com ou sem neve, um calor de Verão. Parece mentira mas é verdade. Frio só ao amanhecer onde o sol ainda não bate ou ao anoitecer nos primeiros momentos de choque térmico dia-noite. Pela manhã e tarde fora, é um prazer envolver a vista de neve e sentir o quentinho na pele. Para a versão praia completa, nada como aterrar em espreguiçadeiras ao ar livre, rosto colado ao sol. É mesmo como estar na praia – até porque bronzeia que só visto e obriga, necessariamente, a protector solar sério – mas uma praia de neve, em que em vez de deixarmos os olhos no oceano, os deixamos neste gelado mar branco. E em vez de admirarmos as façanhas de surfistas, seguimos o ballet de esquiadores ou de parapentes em céu azulíssimo.
Já experimentámos esta praia em várias versões e altitudes. De cima, a quase 2000m é uma beleza. Aqui, optámos por espreguiçarmos na esplanada de um dos vários bares a que só se chegam de teleférico. Com neve pujante por todos os lados, um sol de Março a arder, a sede a gritar por cerveja fresquinha, os nossos companheiros de esplanada não resistem: muita gente de t-shirt, ali um rapaz quase só de calções e de tronco nu, ali uma menina a experimentar se consegue aguentar-se só de top – confirma-se, consegue; e, adivinha-se-lhe nos gestos, até era capaz de tentar chegar à fase natural seguinte, a do topless. Mas a esplanada cheia desmotiva-a. Infelizmente, não temos direito às cadeiras tipo praia para nos recostarmos e vermos o filme natural dos Alpes. Estas são colocadas na parte da frente da esplanada-terraço e noutros pontos nevrálgicos. Não tiro os olhos delas, a ver se algumas ficam livres. Mas são muito, muito requisitadas e, provavelmente, defendidas com unhas e dentes. Não arrisco. Contento-me com um kir com vinho branco da região, Sabóia.
Já lá em baixo, pelo Club Med, desde que não seja horário nobre solar, temos direito a verdadeiras espreguiçadeiras, com vistas a subir pelas encostas e os nossos vizinhos esquiadores em manobras que quase parecem terminar no nosso colo. Está um calorzinho de preguiça e a sensação contrastante é divina: a meio metro está o gelo e no rosto e no corpo todo está um sol de primeira. O Verão tomou os Alpes e não larga. E isto que as temperaturas, no máximo, pouco passam acima dos 10 graus – só que a temperatura psicológica conta muito e, por vezes, vamos a sensações de 25, 30 grus. Há quem lamente à séria tais temperaturas, até porque veio artilhado de um guarda-roupa completo para o frio-frio. Mas a coisa está a tal ponto por estes dias que, às horas soalheiras, até luvas, cachecóis, barretes ou térmicos podem ser dispensados. É praia à séria, venham daí os calções.
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Luís J. Santos (texto) e Dário Cruz (fotos) viajam a convite do Club Med e da TAP
A inveja é um sentimento muito feio, mas ao ler a reportagem foi inevitável.
Que paisagem paradisíaca*.
Tratam muito mal os jornalistas no teu emprego, tratam…. tratam….