Passavam trinta minutos da meia-noite e os geradores já se tinham desligado há muito. Também a antena que dá acesso à Internet, explicou-nos Pierre, de Toulon, devia estar desligada… ou avariada. Passámos a última noite em Fort Bou-Jrif, um complexo instalado próximo de um forte, quase no meio do nada, mas com luxos inimagináveis quando comparado ao último hotel, o Imperial Holiday, em Marraquexe, de onde até a saída foi muito dificultada e exigiu a presença de polícia e delegado de turismo. Pelo menos para os membros da organização.
Os restantes foram liberados para o primeiro dia que começou a arrancar boa-disposição geral, mas que também se revelou sofrido para alguns. O Pajero de caixa automática parou pouco tempo depois da cidade com problemas. Precisamente na caixa automática. Regressou a Marraquexe e hoje aguardava a chegada da máquina que iria diagnosticar o problema, sem quaisquer certezas de poder continuar connosco. Para todos os outros também não há facilidades. Acabou-se o passeio turístico, rematado da melhor forma com uma incursão à exuberante e intensa praça Djemaa el-Fna e iniciou-se a expedição de sobrevivência em que cada carro é um templo para quem aí segue.
Além disso, demorou, tempo e quilómetros, mas os 30 minutos de pista para chegar ao forte foram suficientes para sentir que valeu a pena a caminhada de alcatrão até aqui. A noite anterior foi uma última noite de relaxe antes do deserto que nos conduz ao Sara Ocidental para duas noites de acampamento.
Parámos para abastecer no último posto em que há a certeza de haver combustível. Depósitos a vazar e jerrycans completos, aproveitamos a deixa para comer alguma coisa e ligar o computador à corrente localizada sobre um lavatório e com um caixote do lixo ao lado, gentilmente cedida.
Hão-de chegar momentos ainda mais difíceis, principalmente para atravessar a Mauritânia. E acabam-se as certezas de quando poderemos enviar o próximo relato (mas haveremos de tentar tudo para enviá-lo o mais depressa possível): é que a partir daqui, o território é inóspito e a rede poderá falhar a maior parte, se não todo, o tempo.
Mas para já vamos aproveitando a simpatia com que nos vão acolhendo por onde quer que passemos – como nos acabou de acontecer em Tan-Tan, onde deixámos o endereço da Fugas para que os nossos anfitriões, que nos andaram a guiar entre padarias, cafés, casas de banho, pudessem espreitar e até deixar um comentário (Salut! Et merci pour tout!).
p.s. – entretanto, chegámos, nesta quinta-feira, a Es Smara, local do último abastecimento até Dakhla e também para o último contacto com a civilização. A noite foi passada no deserto sob uma cúpula estrelada. Prosseguimos rumo à Mauritânia. O nervoso miudinho aumenta, mas também o ânimo. Infelizmente, o Mitsubishi Pajero, que ficou em Marraquexe, voltou para casa. Deixamos aqui os nossos votos de boa viagem.
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Carla B. Ribeiro acompanha o 2.º Portugal-Dakar Challenge, a convite da organização, de 30 de Dezembro a 13 de Janeiro. Informações gerais sobre o evento no primeiro post
Amigos, estou ansioso por mais noticias vossas. Continuação de uma boa viagem são os meus desejos.
Mário