Com o céu cinza e alguns salpicos, abandonámos logo às primeiras horas da manhã as paisagens verdes secas do Mediterrâneo, deixando uma caótica Rabat para trás. Deste ponto até Marraquexe há apenas auto-estrada para palmilhar. Mas, mesmo calculando a falta que os carros já sentem de um pouco de pó, nem por isso a monotonia se impõe. Um pouco por todo o lado, há sempre algo a tomar atenção. Ora são as obras de alargamento, ora as operações stop (no mínimo, uma por portagem: e em 323km passámos seguramente por mais de três), ora são as pessoas que, do nada, surgem a correr prontas a vender, a pedir, a negociar.
Como os três homens que, assim que parámos as viaturas, logo a seguir a umas portagens quase no meio do nada, nasceram tal cogumelos, não se sabe bem de onde, com colares (“flor de pinho, señora”, dizia um, arranhando o espanhol, “un’euro / 10 dirhams”), com cestas de vime (“una, cinq’euro”), ou até mesmo com uma moeda de 50 cêntimos para trocar por dirhams. Há quem ainda ofereça “três euros por duas cestas de vime”, mas inflexivelmente o valor não baixa de “dua, quatr’euro”. Já o custo dos colares é mais oscilante: de um euro cada passou a dois por um euro, depois três, depois quatro… E, oferta final, um molho deles por sete dirhams (qualquer coisa como 70 cêntimos).
Saímos de mãos a abanar, sem negócio concretizado, mas ainda arrancamos uma sonora gargalhada para a fotografia. Pelo caminho, passamos por aldeias que parecem acampamentos, por mulheres na estrada, de mala ao ombro, como que à espera do autocarro, por um reboque cujos carros vão cheios de marroquinos à boleia, por camiões cuja carga ultrapassa em dobro o tamanho do vagão que a transporta, por plantações a perder de vista, por tanques de guerra camuflados em cima de camiões TIR. E o horizonte vai-se abrindo. O céu já é maior e o olhar periférico já só consegue apanhar uma ínfima parte do que se tem pela frente. Lá ao fundo a imponente e nevada cordilheira do Atlas, cujo pico mais alto sobe a mais de 4160m. No seu sopé, a “cidade vermelha”, hoje iluminada por um sol atrevido – que, se o descuido o deixar, até queima -, emoldurada por um limpo céu azul, a contrastar com a cinzenta Rabat que deixámos três horas antes.. Sabemos que nos estamos a aproximar de Marraquexe também pelos carros que se cruzam connosco na auto-estrada: jaguares, ferraris, lamborghinis… Em oposição, seguem ao nosso lado motoretas “a cair de maduras” de cujos condutores arrancamos sorrisos, saudações e até poses para a câmara.
Assim que entramos na cidade voltamos ao caos do trânsito. A caravana é compacta, mas há sempre quem a consiga separar. E lá acabamos perdidos… a uns parcos 100m do hotel. Ficamos mesmo aqui ao lado a comer umas espetadas de carne ultratemperadas com batata frita e pão a acompanhar. A rematar, um café expresso de sabor estranho mas viajado: à falta de um para servir, um dos empregados apressou-se a ir buscar cinco expressos ao botequim da frente, do outro lado da estrada. Choukran!
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Carla B. Ribeiro acompanha o 2.º Portugal-Dakar Challenge, a convite da organização, de 30 de Dezembro a 13 de Janeiro. Informações gerais sobre o evento no primeiro post
O piloto e o navegador do carro nº21 são os maiores!
Aproveitem bem e divirtam-se, mas com juizo.
Beijinhos ao João e ao Nelson.
Todos os dias venho aqui a procurar saber como vai andando todo esse pessoal, mas em especial os meus AMIGOS que tripulam o Grande nº 15. Grande abraço para todos e em especial para o João e o Zé.
Boas continuem a mandar noticias e fotos um grande abraço para todos, em especial para o carro Nº15 onde vai os meus amigos José Diogo / João Anágua
Boa Viagem
eu,não sei qual o n. do carro,mas aki vai um enorme abraço,ao meu amigo Omar Neves, e um beijo em especial ao navegador,LUIS CÂMARA.