No poço de Bukhara, no coração da Rota da Seda

Há um pequeno poço semidestapado no centro da sala. Ao lado puseram um reservatório de água e três torneiras, tudo em plástico. Um pouco mais atrás, já noutra divisão mais exígua, não acessível ao público, entrevê-se um túmulo majestoso, coberto por um manto de cetim preto rendilhado a dourado.

A sala do poço também não é lá muito ampla e está à pinha de turistas que circulam distraídos entre painéis explicativos de obras de hidráulica. De modo que passam quase despercebidas cinco mulheres sentadas num banco corrido. Têm idades diferentes, mas feições semelhantes e usam as cinco vestidos garridos de padrão local. Estão a rezar ou a entoar o que quer que seja em coro.

Este é o mausoléu de Chashma-Ayub, agora também Museu da Água de Bukhara. Não há porém inconsistência entre essas funções. Reza a lenda que foi o profeta Job quem descobriu o poço junto do local onde veio a ser enterrado, numa época de seca especialmente aguda nesta zona semidesértica do Uzbequistão. É por isso uma das moradas mais santas de uma das cidades mais santas da Ásia Central. Justificou a construção do mausoléu, obra que teve início no século XII e se arrastou até ao XVI, distinguindo-se pela insólita cúpula cónica, que se deve a arquitectos do norte do Turquemenistão.

A convivência da tradicional romaria de jovens esposas desejosas de engravidar com os novos estatutos de museu da água e atracção turística faz do mausoléu de Chashma-Ayub um perfeito emblema de Bukhara. Ou a mais recente actualização do que sempre foi uma história de encontro e mistura de culturas no coração da Rota da Seda.

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