Toda a gente me diz, e eu sei bem que é verdade: tive mesmo sorte com o tempo em Berlim. Começou a Primavera, e logo os berlinenses desataram a subir as calças para apanhar sol nas esplanadas, tiraram as sandálias dos armários, e abriu a época da bicicleta.
Dizer que a maioria dos berlinenses anda de bicicleta é um understatement. Há três – três! – revistas diferentes dedicadas a bicicletas, e li que todos os dias cerca de 500 mil circulam pela cidade.
Os passeios de bicicleta são ainda um grande filão turístico: há rotas para todos os gostos, desde Berlim “pobre mas sexy”, na famosa frase do presidente da câmara Klaus Wowereit, ou ao longo do muro: alguns troços da estrada de alcatrão em que os soldados da RDA patrulhavam a faixa de terreno junto ao muro foram preservados e são hoje ciclovias. Foi este paseio ao longo do muro que fiz, três horas em que se misturaram a normalidade das ciclovias, a calma de vários parques e ainda a adrenalina de andar pela estrada com carros a passar rés-vés – passa, não passa? Ufa, passou!
Mas a grande, grande sorte, foi termos chegado à Borholmer Strasse, o primeiro local em que muro caiu, e as cerejeiras (que lá foram plantadas para marcar um troço onde passava o muro), estarem em flor. As flores aguentam-se uns quatro dias nas árvores, e é fácil serem levadas até mais cedo pela chuva ou vento. Ontem foi o dia perfeito para as ver.