Em grande parte das cabeças “pensantes” deste novo século XXI, ser versátil é algo com uma conotação muito sexual. Mas deixem-me já esclarecer-vos que não. O meu objectivo com este texto não é de fazer juízos de valor sobre palavras com carácter sexual.
O DLPO define a versatilidade como sendo um “estado, qualidade ou condição de ser versátil”, ou seja, “que tem várias qualidades ou utilidades ou que pode fazer ou aprender várias coisas”. Pois então, eu vou adaptar esta palavra ao mundo jornalístico.
Jornalista que é jornalista tem de ser versátil. A história de que “eu sou jornalista de política e tu és de sociedade” já tem os dias contados há muito tempo. Mais do que ser importante estar bem dentro de um assunto para poder escrever sobre ele, é ainda mais importante estar dentro de qualquer assunto para escrever sobre ele quando for preciso. Mas desenganem-se aqueles que acham que estar dentro de qualquer assunto significa saber tudo sobre tudo. Não quero que fiquem a achar que devem repentinamente tornar-se num professor Marcelo, ou coisa parecida. A pesquisa é tudo.
Vou dar-vos dois exemplos, um de um professor que tive, que é jornalista na SIC, e um pessoal.
Alguém me contou um dia que, aquando do sismo e daquela história toda de Fukushima, acordou com uma chamada a perguntar “já viste as notícias?”; ora, tendo em conta que eram 8h da manhã, é natural que não. Pôs-se, portanto, a par daquilo que passava na televisão (que não era muita informação, uma vez que era uma coisa de última hora) e preparou-se para ir trabalhar. Quando saiu do banho, tinha uma mensagem no telemóvel a dizer “Faz as malas”. Ora, sendo que quem me contou isto foi um jornalista de política (lá está, a distinção por temas), o que é que lhe restou fazer? Chegar à redacção, imprimir o máximo possível sobre o Japão, centrais nucleares e etc. e pôr-se a caminho. Quando lá chegou, trabalhou como se fosse um jornalista perito no assunto, coisa que não era até há um dia, ou coisa assim. Versatilidade.
Eu já passei por uma coisa do género. Claro que não sou um jornalista conhecido da SIC, nem nada que se pareça – pelo menos por enquanto -, mas certo é que, cá dentro, não me tratam como o típico estagiário. Aliás, nenhum de nós é tratado assim. Somos todos colegas de profissão, todos jornalistas, e fazemos o trabalho que nos aparece à frente.
Eu já tive de escrever sobre tudo o que é possível e (in)imaginável – caça às baleias antes de almoçar, Rolling Stones depois de almoço e Tribunal Constitucional à noitinha (sim, à noitinha, porque ser jornalista tem disto de trabalhar 13 horas num dia, quando era suposto trabalhar oito – não me estou a queixar).
Portanto, vamos lá concluir isto. Um jornalista tem de ser versátil. É óptimo, até mesmo perfeito, se estiver 100% dentro de um assunto. Mas tem de estar preparado para tudo o que aí venha. O argumento de “ah, isso não é da minha área” não é válido. E é ainda menos válido quando um dos vossos camaradas de estágio tem estudos em Economia e está a estagiar enquanto jornalista na secção de…desporto. Ah!, e tem um blogue sobre culinária. Um exemplo quase perfeito de versatilidade. Basta uma boa base de pesquisa para num instante ficarem peritos sobre qualquer coisa. Basta quererem.
Para os futuros jornalistas deste nosso século XXI, deixo um conselho (se me permitirem tal autoridade): sejam versáteis.
Pedro Nunes Rodrigues