Barack Obama, o Presidente

Barack Obama ainda tem os pés no pedestal mas já não tem a cabeça no ar. O Presidente dos Estados Unidos mantém-se fiel ao seu lema: nesta eleição, ele ainda é o homem da esperança (hope). Mas ontem, no seu discurso de nomeação na convenção democrata, sublinhou que o fundamental na votação em Novembro é a escolha (choice), não a mudança (change). Isso, apontou, os americanos já conseguiram há quatro anos – mudaram o país, e agora trata-se de avançar o projecto, seguir em frente em vez de voltar para trás.

Toda a campanha de reeleição de Obama assenta nessa premissa. A conquista de um segundo mandato depende da forma como os americanos quiserem encarar a eleição: um referendo sobre o seu desempenho económico, como desejam os republicanos, ou um duelo contra Mitt Romney, uma escolha entre duas diferentes personalidades e duas distintas ideologias.

Obama definiu claramente os termos de comparação entre o seu projecto e o do seu adversário no desfecho da convenção de Charlotte. Incaracteristicamente, Obama foi sobretudo pragmático na sua intervenção. O discurso foi muito bem construído, e incluiu trechos inspirados e empolgantes, mas não a retórica arrebatadora, lírica e quase sagrada, que o levou até à Casa Branca. Foi sóbrio, discreto e realista (o que confundiu os seus apoiantes e os seus críticos). Nas suas próprias palavras, Obama é agora um homem diferente. “Reconheço que os tempos mudaram desde que pela primeira vez falei nesta convenção. Os tempos mudaram e eu também. Hoje, já não sou apenas um candidato. Agora sou o Presidente”, lembrou.

Apesar de na véspera Bill Clinton já ter praticamente “despachado” todo o trabalho de desgaste da oposição republicana (e antes dele, também o vice-presidente Joe Biden, que não se cansa do refrão “Bin Laden está morto e a General Motors está viva”, tinha cavado uma enorme trincheira), Barack Obama não deixou de atacar.

Algumas das suas críticas foram dirigidas e acutilantes, outras ficaram penduradas nas entrelinhas – ao contrário de Clinton, que avança com um bulldozer, Obama atinge com uma lâmina. “A liberdade que só quer saber o que posso ganhar com isto; a liberdade sem o compromisso com os outros; a liberdade sem o amor, ou a caridade, ou o dever, ou o patriotismo, não é digna dos nossos ideais fundadores e daqueles que morreram na sua defesa”, disse, traçando uma invisível distinção dos seus valores versus os republicanos.

O Presidente usou ainda o humor para responder às críticas dos seus adversários ou atacar as suas receitas que, salientou, são as mesmas há 30 anos. “A economia cresce? Vamos tentar um corte fiscal. O défice está demasiado alto? Vamos avançar com outro. Sente que vem aí uma constipação? Tome dois cortes fiscais, uma dose de desregulação e volte a ligar amanhã de manhã!”

O Presidente defendeu as políticas da sua Administração, sem grande minúcia, e demonstrou a mesma frugalidade na enumeração de novas prioridades ou na promoção de novas iniciativas. Não houve nada de excepcional, nada de prometer o céu e a terra, como os republicanos censuraram. Barack Obama não se afastou da plataforma com que se candidatou há quatro anos, mas desta vez substituiu o tom de emergência que fazia dele um homem providencial, por um novo tom de normalidade. Talvez propositadamente, as suas palavras soaram demasiado familiares, como se o Presidente estivesse a repetir um discurso sobre o Estado da União e não a inflamar os ânimos numa convenção partidária.

Desta vez, Obama não queria inspirar, queria pedir aos americanos para confiarem que ele é, ao contrário do seu adversário Mitt Romney, o candidato que melhor os compreende e que tem melhores soluções para resolver os seus problemas. O seu discurso não se destinava a arrebatar, mas sim a tranquilizar – e garantir que as coisas vão melhorar. O apelo não é à fé, mas à perseverança. “O nosso caminho é mais difícil mas leva-nos a um lugar melhor”, declarou.

Se Obama não descolou definitivamente de Romney, pelo menos garantiu que parte em melhor posição para os debates.

Rita Siza

 

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