Relativamente à proposta fiscal ontem apresentada pelo Presidente Barack Obama, e que diz respeito à extensão por mais um ano dos cortes e benefícios fiscais aprovados pelo Congresso durante a Administração de George W. Bush (e que expiram no final de 2012), aqui fica uma importante explicação/ratificação face aos muitos títulos que apareceram na imprensa a falar em menos impostos para a classe média e mais impostos para os ricos.
Em traços gerais, esse é o raciocínio por detrás da proposta do Presidente, mas em nome do rigor, o plano prevê que todos os contribuintes norte-americanos beneficiem de um tratamento fiscal mais vantajoso nos rendimentos (sujeitos a imposto) até 250 mil dólares. Ou seja, quem declara mais do que esse valor ao Fisco — e nos Estados Unidos, apenas 2% dos contribuintes declaram mais do que 250 mil dólares de rendimentos anuais — também terá direito a uma taxa mais baixa até esse montante, a partir do qual suportará, de acordo com a proposta da Casa Branca, uma taxa mais pesada.
Mas se a proposta é para todos, porque é que o próprio Obama~faz a distinção entre ricos e pobres? Apenas por razões de jogo político e cálculo eleitoral. A proposta apresentada ontem faz parte da ofensiva da sua campanha de reeleição, que tem como temas centrais a diminuição das desigualdades e injustiças económicas nos Estados Unidos. Ao contextualizar a questão fiscal como uma questão ética e moral — quem pode mais deve pagar mais e quem pode menos deve receber ajudas ou incentivos –, Obama está a cavar um fosse ainda maior com o seu adversário republicano Mitt Romney, que a opinião pública já percepciona como um candidato milionário incapaz de compreender os problemas que afectam a classe média. Sob pressão da sua bancada conservadora, e do oposição liberal, Romney fica na desconfortável situação de atacar a proposta de Obama e exigir um tratamento preferencial para os ricos, reforçando a ideia feita.
Rita Siza