Na política, e mais especificamente, numa campanha eleitoral, duas semanas são uma eternidade. Quem tem seguido a corrida para a nomeação republicana à Casa Branca, sabe como nesse tempo se podem operar várias reviravoltas na narrativa. E com efeito, desde o último post, verificaram-se algumas novidades importantes, mas para sintetizar, fiquemo-nos por apenas duas, as mais importantes (e interessantes) destes últimos dias:
– a desistência do antigo senador da Pensilvânia Rick Santorum,
– a polémica que envolveu Ann Romney, a mulher do ex-governador do Massachusetts Mitt Romney e putativo vencedor da corrida republicana (apesar de ainda permanecerem dois adversários em campo, Newt Gingrich e Ron Paul).
Rick Santorum anunciou a suspensão da sua campanha (uma preciosidade retórica que permite que a sua campanha continue a recolher fundos) porque:
A) A desvantagem da sua candidatura em termos da alocação de delegados era inultrapassável, e mesmo que matematicamente ainda fosse possível evitar que Romney alcançasse o número mágico de 1144, era virtualmente impossível apertar o intervalo para poder disputar a nomeação numa convenção aberta;
B) A sua campanha estava na falência e incapaz de reunir apoios financeiros e políticos que lhe permitissem prosseguir ;
C) O seu objectivo político estava concretizado.
Santorum não só conseguir estabelecer as suas credenciais para uma futura candidatura em 2016, garantindo que será acolhido consensualmente como o melhor representante possível dos valores ultra-conservadores que actualmente animam as bases republicanas (partindo do princípio, claro, que Barack Obama conseguirá conquistar um segundo mandato em Novembro); como conseguiu definir a mensagem e a plataforma política que comprometerá o Partido Republicano nesta eleição. Ao forçar o candidato moderado dos republicanos a desviar-se do guião e assumir uma série de posições radicalmente à direita, fez dele um refém permanente da sua agenda. O “conservadorismo severo” de Romney é um caminho sem volta, e mesmo com Santorum fora da corrida, a sua candidatura já não poderá dissociar-se das ideias que defendeu na sua tentativa de cativar o bloco dos evangélicos ou do Tea Party que se identificava com o ex-senador da Pensilvânia.
A propósito, interessante este artigo que discute como a actual plataforma política do Partido Republicano é a mais conservadora dos últimos cem anos.
E porque é divertida, esta animação que apresenta a corrida republicana como uma verdadeira corrida de cavalos.
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A polémica com Ann Romney — que nasceu de um comentário de uma conselheira do Partido Democrático, Hilary Rosen, que em entrevista à CNN censurou o facto da mulher do candidato “nunca ter trabalhado um dia da sua vida” — é interessante na medida em que oferece uma espécie de antevisão de como se vai processar a campanha em Setembro e Outubro, até ao dia 6 de Novembro: vai ser uma longa sucessão de casos. Cheirando uma abertura face ao seu único opositor do momento, Barack Obama, a estratégia de Romney foi explorar o caso para colmatar os seus problemas com uma parcela importante do eleitorado, as mulheres, e tentar inverter os números que dão conta do afastamento do eleitorado feminimo da campanha de Romney.
Como escreve o Politico, a blogosfera de esquerda apressou-se a denunciar a polémica como uma “fabricação” dos conservadores. Mas, irrelevante ou não, o assunto consumiu a atenção dos comentadores que seguem a eleição.
Hoje, aproveitando o aniversário de Ann Romney, a campanha apresentou um video emocional para reforçar a imagem de dedicação doméstica e à família que foi a sua escolha (em vez de uma profissão). A campanha chamou ao comentário de Rosen uma “dádiva”, na medida em que lhes permitia cavar mais uma distinção com a campanha de Obama. No entanto hoje a equipa do candidato foi confrontada com declarações do próprio Romney que parecem desvalorizar o papel das mulheres que ficam em casa sem trabalhar.
Mark MicKinnon, um dos mais cotados estrategas republicanos, acha que a campanha de Romney não ganhará muito se tentar usar a mulher do candidato como trunfo.
Rita Siza