Revisão de matérias dadas no fim-de-semana:
A fotografia que marcou o debate na realidade é da passada sexta-feira. Mostra uma apresentação de Mitt Romney no Ford Stadium de Detroit. Não se tratava exactamente de um comício — o ex-governador do Massachusetts falava para os membros do Detroit Economic Club. No entanto, a diferença de escalas entre as bancadas (para 65 mil pessoas) vazias e a plateia (para 1200 convidados) cheia no relvado criou um embaraço para a sua campanha — a questão tem a ver com a percepção, já instituída, que Romney é um candidato que não entusiasma as massas. No entanto, como argumenta o liberal Ezra Klein no Washington Post, mais importante do que a forma, foi o conteúdo do discurso de Romney, “a articulação mais clara que [o candidato] já ofereceu sobre a sua política fiscal”: aqui e novamente aqui.
A deriva para a direita da corrida republicana também foi amplamente debatida nos últimos dias.
Jeb Bush, o irmão do antigo Presidente George W. Bush e ex-governador da Florida, outrora uma estrela do partido e putativo candidato presidencial, terá manifestado o seu desconforto com o tom do discurso:
“Eu achava que era conservador, mas vejo estes debates e fico a pensar, não me parece que tenha mudado, mas acho um bocado preocupante quando as pessoas preferem apelar ao medo e à emoção dos eleitores em vez de os levarem a olhar além do horizonte e dar-lhes uma perspectiva mais vasta.”
Das fileiras republicanas e não só, surgem constantes apelos à moderação, com alertas para os possíveis resultados catastróficos do extremar de posições dos candidatos em quase todos os assuntos que vêm à baila. O risco é de afastar irreversivelmente o eleitorado independente e pôr em risco a participação dos republicanos mais moderados nas primárias e na eleição de Novembro.
A tendência, nota o The New York Times, não é nova: tem vindo a acentuar-se com a corrida presidencial, mas este movimento para a franja ficou patente na actividade do Congresso, depois das eleições intercalares de 2010 que reconfiguraram o equilíbrio de forças no Capitólio, por força da ascendência política do Tea Party.
Sobre o assunto, vale a pena ler o excelente artigo de John Heilemann na New York Magazine, com o sugestivo título “Um partido perdido”.
Rita Siza