A extraordinária defesa de Newt Gingrich pela ex-governadora do Alasca, candidata à vice-presidência, comentadora da Fox News e figura mais querida do Tea Party, Sarah Palin, perante o igualmente extraordinário ataque contra a sua candidatura por parte do “establishment” republicano, dá bem conta do actual estado de cisão no movimento conservador: as chamadas bases já não respeitam as directivas dos barões.
Esse é o dilema do Partido Republicano. O candidato que os barões escolheram é categoricamente rejeitado pelas bases, que por sua vez esbarram na resistência dos defensores do “sistema” em abraçar a alternativa que elas oferecem.
Dito de outra maneira. Os barões do partido escolheram Mitt Romney no pressuposto de que ele é o único candidato capaz de disputar a Barack Obama o voto dos eleitores centristas, moderados e independentes. Mas nas votações até agora, o ex-governador do Massachusetts falhou em ultrapassar a barreira dos 25% de aprovação do eleitorado republicano, ou seja, há uma maioria de quase dois terços do bloco conservador que não está disposta a votar nele – e que poderá desistir de participar na eleição de Novembro.
A posição de “qualquer-um-menos-Romney” das bases do partido evoluiu para uma concertação em torno de Newt Gingrich, que nestas primárias assumiu o papel do “rebelde” – John McCain, outro homem do sistema, foi o “maverick” na última campanha republicana – que se bate contra a hierarquia e a disciplina partidária. Alinhado com o Tea Party, o rechaço do partido só serve para firmar as suas credenciais.
A declaração inflamada de Palin mostra que a insurreição do Tea Party já não se contenta com a mera condescendência da “velha guarda” do partido.
Isto já nem tem nada a ver com Newt Gingrich vs. Mitt Romney. Isto é sobre o sistema do GOP vs. Os apoiantes do Tea Party e os americanos independentes que estão fartos da política de destruição pessoal a que as campanhas estão a recorrer com a cumplicidade dos media. (…)
Na Carolina do Sul, o Tea Party decidiu apoiar Newt Gingrich em vez da escolha da velha guarda. Na resposta, as vozes do sistema denunciaram os eleitores da Carolina do Sul com o mesmo ódio que habitualmente encontramos na esquerda, quando fala nos americanos que cinicamente se agarram à sua fé e aos seus direitos consagrados na 2ª emenda da Constituição. (…)
Já uma vez disseram ao Tea Party para estar quieto e calado e ouvir a “sabedoria” dos seus superiores. Vêm sempre com o argumento dos candidatos apoiados pelo tea Party que não ganharam em 2010. Mas gostava de lembrar aos senhores do sistema, que se não fosse o Tea Party, a vitória histórica de 2010 nunca teria acontecido.
Vai ser interessante perceber se as palavras de Palin vão ter ou não repercussão – e influência – junto do eleitorado da Florida.
Rita Siza