Análises mais sérias no futuro.
The end.
Presidente Barack Obama
O Presidente Barack Obama, reeleito para um segundo mandato esta noite, fará em breve a sua declaração ao país. Multidões eufóricas por todo o país celebram a vitória — que será, porventura, ainda mais significativa politicamente do que a sua histórica eleição de 2008.
O seu adversário republicano Mitt Romney acaba de fazer o discurso da concessão, palavras que não sendo de improviso não soaram previamente ensaiadas.
Quem seguiu a cobertura da noite eleitoral minuto-a-minuto na página do Público* compreenderá que não se alongue aqui a análise aos resultados e as implicações e consequências da reeleição de Barack Obama antes de umas horas de sono. Outros motivos de interesse da noite merecerão, mais tarde e nos próximos dias, a devida atenção: os resultados das corridas para o Senado e a Câmara de Representantes e ainda a evolução da sociedade norte-americana patente na votação dos referendos nos boletins eleitorais.
* Muito obrigada pela companhia!
Rita Siza
A América a votar
O direito ao voto nos Estados Unidos
Para entreter, uma história da evolução do direito ao voto nos Estados Unidos.
O melhor, o pior e o mais ridículo
Para entreter e passar o tempo, via Talking Points Memo, aqui fica uma lista com o melhor, o pior e o mais ridículo da campanha eleitoral de 2012.
Um guia para a noite eleitoral
Para os noctívagos que estiverem interessados em acompanhar a maratona eleitoral esta madrugada, aqui fica um guia com o horário de abertura e fecho das mesas de voto nos diferentes estados e algumas pistas sobre o significado das primeiras projecções.
Abertura das urnas
11h00 hora de Portugal/6h00 EST (horário da costa leste): Começa a votação no Connecticut, Nova Jérsia, Nova Iorque e Virginia. De todos estes estados, só a corrida na Virginia é considerada competitiva.
11h30/6h30: Abrem as urnas no Ohio, o estado que atrai todas as atenções. O Presidente Barack Obama nunca deixou de estar à frente nas sondagens; uma derrota de Mitt Romney praticamente inviabiliza as suas hipóteses de chegar aos 270 votos do Colégio Eleitoral.
12h00/7h00: Inicia-se a votação nos restantes estados da costa leste, incluindo a gigantesca Florida e o Massachusetts, que o republicano Mitt Romney governou entre 2003 e 2007. A sede de campanha do republicano, onde o candidato acompanhará a contagem, fica em Boston. Abrem também as urnas nos estados do Midwest, que contempla o Illinois, estado adoptivo de Barack Obama. O Presidente vai para Chicago, mas já não precisa de votar – tanto o Presidente como a Primeira-Dama recorreram ao voto antecipado para exercer o seu direito cívico.
13h00/8h00: Começa-se a votar nos estados do Oeste. As últimas mesas de voto a abrir são as do Alasca, às 16h00/11h00 e do Havai, às 17h00/12h00.
Encerramento das urnas
0h00/19h00: Acaba a votação em seis estados, e os que merecem mais atenção são o Indiana e a Virginia. Se a esta hora já for possível fazer a projecção do vencedor da Virginia, pode começar a definir-se a tendência da noite: se o pêndulo cair para o lado de Obama, será um primeiro e significativo sinal de que o Presidente está a caminho da reeleição (o democrata venceu este estado tradicionalmente conservador em 2008, e a demografia do Norte, onde ficam os subúrbios da capital Washington, são-lhe muito favoráveis). Se o pêndulo desviar para o lado de Mitt Romney, será uma indicação clara de que a corrida segue renhida – os republicanos estarão em condições de disputar os estados indecisos. No entanto, o mais provável é que seja impossível fazer uma projecção com base nas sondagens à boca da urna, uma vez que a diferença entre os dois candidatos esteve sempre dentro da margem de erro dos inquéritos de opinião. Será preciso esperar pelas indicações dos votos contados, o que previsivelmente atrasará o processo várias horas, já que uma nova lei de identificação de eleitores introduzida pela legislatura estadual este ano.
0h30/19h30: Fecham as urnas no Ohio e na Carolina do Norte, que juntos valem 33 votos do Colégio Eleitoral. Mas não se espere nenhuma declaração rápida de resultados no Ohio: todos os eleitores que estejam na fila para votar têm direito de fazê-lo, mesmo que tenham de esperar horas. Se as sondagens mostrarem uma votação renhida, o processo de contagem poderá demorar vários dias. Em 2004, quando dependia do Ohio a reeleição de George W. Bush, a vitória só foi declarada no dia seguinte, às 11 horas da manhã, quando ainda se contavam os boletins. Nenhum republicano foi eleito sem o estado do Ohio, e por isso se a vitória for dada a Obama, será o fim das aspirações de Mitt Romney. Antes disso haverá pistas a partir dos resultados da Carolina do Norte, que se manteve competitiva quase até ao final da campanha mas onde o republicano Mitt Romney conseguiu uma ligeira vantagem antes da eleição. Obama venceu em 2008, mas a sua equipa parece ter concedido a corrida antes da votação: uma vitória surpresa do Presidente confirmará a reeleição.
1h00/20h00: Encerra a votação em 16 estados e no distrito federal de Columbia (onde fica a capital Washington). As indicações mais importantes virão da Florida e do New Hamsphire, dois dos estados indecisos. E também no Massachusetts, Connecticut e Missouri, onde decorrem importantes duelos para o Senado, que podem garantir uma maioria alargada ao Partido Democrata na câmara alta do Congresso.
A Florida, com 29 votos do Colégio Eleitoral, é o maior prémio. O estado, que pela sua dimensão contempla o horário da costa leste e da região central, demora muito tempo a contar os votos. Os primeiros a ser reportados pertencem às zonas rurais, e mais conservadoras: estes deverão ser dominados por Mitt Romney. As zonas urbanas mais importantes são aquelas que envolvem Miami e Tampa – em particular o condado de Hillsborough, que tradicionalmente serve de padrão da votação do estado. Depois do fiasco eleitoral do ano 2000, ninguém se apressa a tirar conclusões sobre o estado da corrida na Florida, a não ser que haja uma enorme vantagem de um dos candidatos nas sondagens de boca de urna.
Uma vitória do Presidente Obama no New Hampshire será mais um sinal da sua facilidade em chegar até aos 270 votos no Colégio Eleitoral. E uma surpresa de Romney na Pensilvânia, que tem consistentemente revelado apoiar o candidato democrata, significará que a corrida permanece competitiva.
1h30/20h30: Fim da votação no Arkansas, terra natal de Bill Clinton, e que deverá ser imediatamente atribuída ao republicano Mitt Romney (6 votos do Colégio Eleitoral).
2h00/21h00: Termina a votação em 14 estados, entre os quais Colorado, Wisconsin, Arizona, Nebraska e Dakota do Norte. Além da dúvida quanto ao vencedor do Colorado e Wisconsin, há corridas competitivas para o Senado em todos os estados menos o Arizona. Os democratas venceram no Wisconsin nas últimas seis eleições presidenciais, pelo que uma vitória de Romney será um sinal de perigo para as aspirações do Presidente. No Colorado, espera-se que cerca de 80% do voto seja antecipado, pelo que não deveria haver grande dificuldade em projectar um vencedor. No entanto, a engrenagem normalmente emperra na contagem do voto – historicamente, mais de 10% dos votos não são contados na noite eleitoral. Com uma corrida renhida, estes votos podem ser decisivos, pelo que poderá ser preciso esperar até à manhã seguinte para pronunciar a vitória.
Os democratas esperam arrecadar o Michigan e o Minnesota, onde Obama liderava nas sondagens. Será importante perceber se o esforço final dos republicanos, que investiram milhares de dólares para tornar os dois estados competitivos, produziu algum efeito.
3h00/22h00: Fecho das urnas no Iowa e no Nevada, os últimos estados indecisos, e também no Montana e no Utah, onde há corridas com reflexos na composição do Congresso. Se Obama vencer no Ohio e no Wisconsin, Romney precisará de todos estes votos para ainda ter hipóteses no Colégio Eleitoral. Sem o Colorado e o Nevada, o republicano já não chega lá. Se o Presidente conquistar o Nevada – provavelmente graças ao voto hispânico – as contas estão feitas.
4h00/23h00: Encerram as mesas de voto na Califórnia, o estado com mais peso no Colégio Eleitoral, e também no Oregon, Washington, Idaho e Havai. Apesar dos resultados da Califórnia e do Oregon poderem demorar vários dias a reportar, por causa do sistema de votação pelo correio (basta que o boletim seja enviado no próprio dia da votação), não há dúvidas quanto ao vencedor nestes estados, pelo que já começa a ser possível pintar o mapa eleitoral definitivo. Obama terá os 78 votos da Califórnia, Oregon, Washington e Havai e Romney os quatro do Idaho. As últimas mesas de voto, no Alasca, fecham às 6h00/1h00 – os três votos do Colégio Eleitoral serão atribuídos a Mitt Romney. E quem ainda estiver acordado ganha um prémio.
Rita Siza
Pode Mitt Romney ganhar as eleições?
Antes de abrirem as urnas, e enquanto não se contam os votos, a imprensa e blogosfera americana esteve entretida com análises a que chamou pre-mortem da candidatura do republicano Mitt Romney.
A premissa assumida foi a de que, ao contrário de que tem insistido a candidatura republicana e a maior parte dos comentadores partidários de Mitt Romney — caso dos insuspeitos George Will, Peggy Noonan e Michael Barone –, as sondagens reflectirão, com a margem de erro declarada, a intenção de voto do eleitorado norte-americano. Ou seja, as sondagens demonstram uma ligeira vantagem do Presidente Barack Obama nos estados fundamentais, logo mais facilidade de chegar aos 270 votos do Colégio Eleitoral e maior probabilidade de reeleição do que derrota. Seria preciso um “desvio colossal” (para aplicar uma expressão famosa em Portugal) para que toda a matemática eleitoral das sondagens estivesse errada.
Uma das análises vespertinas identifica os três mitos da campanha de Romney, a saber: que o furacão Sandy é responsável pela derrota do republicano; que a campanha se alterou significativamente na sequência do primeiro debate televisivo entre os dois candidatos e que Mitt Romney é um mau candidato. A análise é a última parte de um diálogo mantido entre o veterano repórter James Fallows e o cientista político e professor da Universidade da Califórnia em San Diego, Samuel Popkin.
Preparados para qualquer eventualidade, incluindo a menos provável vitória de Mitt Romney, Ezra Klein (no Washington Post) e Matthew Yglesias (na Slate) especulam sobre o impacto da sua eleição na economia e a margem de manobra do republicano na governação — e na concretização de algumas das suas promessas eleitorais. Yglesias acha que a política económica de um Presidente Romney desiludiria conservadores e liberais, por não se desviar tanto da actual quanto os primeiros desejariam e os segundos anunciaram. Klein argumenta que, apesar de grandes diferenças ideológicas que separam os dois candidatos, as plataformas de Obama e Romney inscrevem-se no que designa como o grande consenso [político] americano que elogia “o génio dos mercados livres, a necessidade de uma rede de segurança federal e a importância de um forte aparelho militar”.
Rita Siza
Os candidatos estão em campanha mas a sorte já foi lançada
Estamos no último (e frenético) dia de campanha eleitoral para a presidência dos Estados Unidos, e apesar dos quilómetros percorridos pelos candidatos, a sorte já foi lançada: não é suposto haver mais nenhuma surpresa entre hoje e amanhã, quando — se tudo correr bem — os americanos descobrirem quem vai viver na Casa Branca nos próximos quatro anos.
Depois de todos os argumentos terem sido apresentados, mastigados, criticados, desmentidos, ditos e reditos, as sondagens continuam a favorecer a reeleição do Presidente Barack Obama — e simultaneamente a confirmar a divisão e polarização política do eleitorado. A votação será necessariamente renhida, como tem sido o caso há mais de uma década, e poderá não ser isenta de controvérsias: este domingo, “vicissitudes” no processo de voto antecipado no sensível estado da Florida já foram suficientes para deixar toda a gente à beira de um ataque de nervos. A ansiedade estende-se ao Ohio, onde estão concentradas todas as atenções da América e do mundo.
(O Washington Post reúne aqui uma lista com as irregularidades detectadas até agora na votação)
É impossível perceber a quantidade de indecisos que ainda estão dispostos a votar amanhã. Nesta fase da corrida, que desde o tiro de partida contou com uma parcela reduzida de swing voters, estes votos podem parecer irrelevantes — excepto em meia dúzia de estados onde podem representar a diferença entre a reeleição confortável de Barack Obama e uma vitória surpresa de Mitt Romney.
As sondagens parecem indicar que os indecisos/independentes estão alinhar para o lado de Obama — poderá ser o resultado de uma reavaliação da postura do Presidente em reacção ao furacão Sandy, mas como escreve Hendrik Hertzberg na New Yorker, a tempestade poderia potencialmente beneficiar e prejudicar os dois candidatos. O Nobel Paul Krugman acredita que foi o evento que fez balançar o pêndulo para o lado do Presidente.
A verdade é que o último dia de campanha é só folclore. Para aqueles que foram consumidos ao longo dos últimos meses pelos mais ínfimos detalhes da campanha, poderá ainda haver uma ilusão de que o que se passa hoje ainda conta. Obama e Romney repetirão hoje as suas alegações finais, mais emotivas do que políticas. Mas as campanhas já fizeram tudo o que podiam fazer para ganhar a eleição. Agora é só esperar.
Rita Siza
Argumentos e declarações
Cinco dias antes da votação, já começam a aparecer os primeiros resumos da campanha eleitoral, condensados nas razões para o voto num ou no outro candidato.
A principal novidade — e a notícia mais significativa do dia (de ontem) — foi a declaração do mayor de Nova Iorque, Michael Bloomberg, de apoio da candidatura do Presidente Barack Obama. A sua inesperada confissão (Bloomberg manteve-se neutro durante a campanha de 2008) é significativa por vários motivos, mas o mais importante poderá ser aquele que Mark Mardell, o principal correspondente da BBC em Washington, identificou na sua indispensável coluna de análise: numa eleição renhida, em que um número significativo de eleitores está genuinamente indeciso quanto à sua escolha eleitoral, os argumentos invocados por Bloomberg poderão mudar opiniões ou consolidar inclinações e sedimentar uma parcela do voto em Barack Obama.
Outros também escreveram sobre as razões para a reeleição de Barack Obama. A insuspeita revista The Economist justifica o seu apoio a Obama (com a ressalva de que já não é tão entusiástico quanto em 2008) com o sucesso da política externa do Presidente e com a apreciação positiva da leitura macroeconómica da sua Administração. As declarações de interesse na candidatura de Obama do veterano E.J. Dionne e de Jonathan Chait também valem a pena.
Em sentido contrário, a defesa do voto em Mitt Romney por David Frum é leitura obrigatória. Frum, um “operacional” da Administração Bush, é das vozes mais críticas (e moderadas) do movimento conservador e do Partido Republicano (a quem atira lanças certeiras no seu manifesto, sólido e sensato).
Rita Siza