Valetta, “o” museu a céu aberto

Valetta é um sonho. Não acredito que possa ser real. Palpável. Mesmo pisando o seu casco dias a fio, demora a aceitar que não passe de uma ideia, que possa ser um projeto verídico. É, indubitavelmente, um dos lugares que devemos experienciar na vida. Para entendermos um pouco do que foi a Europa há 500 anos e como esse passado pode ser vigoroso no presente.

‘Museu a céu aberto’ é expressão quantas vezes vulgarizada, porém, aqui, veste na perfeição esta cidade plena de história, trajada de arquitetura barroca única, fortalezas e muralhas imponentes, catedrais magníficas e vários museus de inegável interesse. São 320 monumentos em área exígua (apenas 0,8 km2… onde habitam uns 6.500 malteses) que a tornam na mais pequena capital da União Europeia. A UNESCO embeiçou-se pelas suas virtudes (impossível resistir-lhe) e em 1980 tornou-a Património da Humanidade.

O que mais me agrada? O facto do meu olhar não ter alternativa e conduzir o cérebro muito atrás no tempo. O tique do meu habitualmente relaxado dedo indicador direito subitamente emancipado: agora tem vida própria e sistemática vontade de premir o gatilho fotográfico a cada três passos. Reage a cada poética varanda, exuberante palácio, singular casa, soberba igreja, frondoso jardim, pronto para registar na memória estátuas, fontes, brasões, paisagens, sorrisos…

Os adictos às compras também têm aqui a possibilidade de serenar, seja em ímpetos de moda, música, joalharia… Os produtos locais – principalmente servidos em pitorescos cafés ou restaurantes – reservam-se mais pelas ruas secundárias, laterais.

Valetta é cativante de dia e envolvente à noite. As ruas ficam quase desertas e a nossa mente divaga rumo a outros tempos. Aqueles que eternizaram os famosos cavaleiros da Ordem de Malta.

De um lado da Cidade Fortaleza, como também é conhecida, podemos avistar a bela e igualmente histórica Birgu. A verdadeira origem da habitabilidade de Malta. Do outro, Sliema. Bem menos interessante. Mais turística. O grande aliciante é mesmo a vista para a arrebatadora tela de La Valetta.

O portão da cidade é um aviso para o que vamos encontrar. As muralhas, a catedral de São João, com o incrível trabalho do mestre italiano Caravaggio, o Palácio do Grão-Mestre e o seu arsenal, o Forte de São Elmo, os jardins de Barrakka e os de Hastings, e o formoso Teatro Manoel são alguns dos imperdíveis neste charmoso burgo. O museu da guerra e nacional de arte também justificam a nossa atenção.

O Mediterrâneo tem aqui a sua coroa, iniciada em 1530 com a chegada dos Cavaleiros de S. João de Jerusalém, inicialmente instalados na vizinha Birgu (mais tarde Vittoriosa), uma das Três Cidades de Malta.

A construção de Valetta começou em 1566 e durou apenas 15 anos, o tempo necessário para construir a urbe, os seus bastiões, fortes e a inevitável catedral. E acreditem que o rochoso Monte Sceberras não é facilmente domável. Teve de ser terraplanado, com as ‘bordas’ estrategicamente abruptas, para facilitar a defesa aos muitos invasores.

Fenícios, gregos, cartagineses, romanos, bizantinos, muçulmanos e a dita Ordem de São João deixaram por cá o seu legado. Tradições vivas, ideias, crenças, trabalhos artísticos e literários de destacada importância universal. O génio criativo humano tem por aqui muitas provas: 320 monumentos em escassos 55 hectares. Haverá lugar no Mundo com maior densidade histórica?

Advertência: evitar os quentes meses de verão, pois o inferno mora por estes lados, em forma de calor que esmaga.

Rui Bar­bosa Batista relata no blo­gue Cor­rer Mundo a sua aven­tura por Malta. No site www.bornfreee.com pode ace­der a outros rela­tos e ima­gens sobre a viagem.

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