Como combinado, às 07:00 estamos a ser recolhidos. Como previsto, passaremos ainda em outros hotéis até encher o pequeno autocarro. Como esperado, os 30-40 quilómetrosaté o cais de Punta Bandera começam a dar-nos uma ideia das idílicas paisagens destas paragens. Incluindo as primeiras aparições do Lago Argentino.
Um catamaran espera-nos. Há ânsia para entrar. Todos querem um bom lugar sentando… desconhecendo ainda que o que vão querer é estar na parte exterior da embarcação a saborear todo o cenário, sem qualquer filtro.
Tomamos os nossos lugares e deixamo-nos impressionar por horas de deleite, rompendo tranquilamente as águas azul-turquesa rumo ao glaciar Upsala. Estará a uns50 quilómetrosdo porto de onde nos lançamos a esta feliz ideia.
O Upsala está num vale com vários outros glaciares – daí o nome Parque Nacional Los Glaciares – e deve o nome à universidade sueca (Uppsala) que no início do século XX fez o primeiro levantamento da região.
O terceiro maior glaciar da América do Sul (Pio XI, no sul do Chile, com64 quilómetros, e Viedama, dividido pelos dois países, com70 quilómetrosde comprimento, mas menor superfície, são os primeiros) tem54 quilómetrose as suas paredes rondam os40 metrosde altura. Tem a mesma origem do famoso glaciar Perito Moreno, neste parque, mas, ao contrário do seu ‘amigo’, está em pleno retrocesso. De demasiados quilómetros nos últimos anos. Preocupante. O tal aquecimento global que há ainda quem insista em desvalorizar…
Vamos encontrando translúcidos blocos de gelo à deriva, enquanto navegamos entre montanhas imponentes e, abençoados pelo sol, águas de uma tonalidade tão viva que apetece abraçar. Verdes luxuriantes, azuis dengosos e brancos espessos. São estas as tonalidades do horizonte, regularmente sarapintado pelo imponente voo negro de enormes condores.
Quem segue dentro do catamaran, vai ouvindo a informação sobre tudo o que vamos vendo… mas ninguém quer saber: é cá fora que o sol brilha, que o ar refresca as ideias, que as cores são intensas… é ao ar livre que sentimos a plenitude do lugar. Um privilégio para a alma.
Após a longa travessia no Lago Argentino, uma (grande) mágoa: não nos aproximamos do glaciar à distância desejada. Muito longe disso. Há vários pequenos ‘icebergs’ (grandes blocos de gelo) soltos e o comandante opta pela (soa a exagerada) prudência e dá a volta com a meta ainda bem distante do olhar. Deceção.
Uma frustração que não chega a ganhar raízes profundas, pois estamos a entrar na Estância Cristina. Um destino imperdível na Patagónia…
Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua aventura pela Argentina e Uruguai. No site www.bornfreee.com pode aceder a outros relatos e imagens sobre a viagem.