Nove anos. Passou muito pouco tempo para já estar a cumprir a promessa de regresso. Em 2006 Ushuaia já não era a mesma que Miguel Sousa Tavares tinha descoberto bons anos antes. Li o seu descontentamento pela desordem com que a cidade tinha crescido. Já só a conheci na versão turística. Agora ainda mais acentuada. É destino bem caro, mas quem não sonha vir ao Fim do Mundo??
As montanhas que a rodeiam têm os picos em permanente neve. ‘Ushu + aia’ (‘baía profunda’ na linguagem indígena yagan) é a cidade mais austral do planeta. Pela sua latitude, por estas bandas o verão soa à nossa primavera tímida.
Quando a olho na baía, em popa de barco, faz-me lembrar o anfiteatro do Funchal. Mais pequeno. Com ruas desenhadas a régua e esquadro.
Ushuaia não sobressai por si mesma. É como uma mulher desmazelada consigo própria, apenas preocupada em providenciar o melhor aos filhos. Parece arranjar-se apenas para o turismo.
Cada um vale por si. E não falta quem esteja a engordar a conta bancária a ritmo alucinante. Quem me aluga os dois apartamentos começou há ano e meio com três habitações. Já detém os oito que compõem o prédio. Daqui a uma semana recebe os seus seis primeiros carros. “A cobrar mais de 100 euros/dia por um ‘classe A’, estarão pagos em meses”, explica-me Julio.
A natureza assombrosa e de beleza difícil de igualar traz a Ushuaia aventureiros de todo o planeta. Também quem quer partir para experiência na Antártida parte daqui.
Cruzeiros, sky, caminhadas, 4×4… são as atividades mais populares por estas bandas. Os indígenas que por cá viveram milhares de anos desapareceram com os nefastos efeitos dos colonizadores, que chegaram no século XIX.
A história diz-nos que cresceu lentamente ao longo da primeira metade do século XX, organizando-se essencialmente em torno da instalação de um grande presídio, que trouxe muitos funcionários administrativos e atraiu novos colonos.
A impressão ‘sombria’ de Ushuaia mudou na segunda metade do século com o fim da cadeia e a instalação de diversos serviços, a melhoria na infraestrutura urbana e a criação de incentivos governamentais para a fixação de novos residentes. O slogan da cidade mais austral do Mundo mudou o seu destino. Definitivamente.
Estamos aqui pelo que faz de Ushuaia um lugar único no planeta. Somente por TUDO isso. Queremos saber histórias do Fim do Mundo. E do que está depois…
Rui Barbosa Batista relata no blogue Correr Mundo a sua aventura pela Argentina e Uruguai. No site www.bornfreee.com pode aceder a outros relatos e imagens sobre a viagem.